Enciclopédia - Definição Histórica

Enciclopédia - Definição Histórica

#Enciclopédia - Definição Histórica
Obra de referência elaborada pelos franceses Denis Diderot (1713-1784) e Jean D'Alembert (1717-1783) com o objetivo de organizar o conhecimento existente na época sobre artes, ciência, filosofia e religião. Surge no auge do iluminismo e transforma-se em uma das mais importantes bases teóricas da Revolução Francesa. Seus princípios básicos são expostos no texto Prospectus, escrito por Diderot em 1750. A princípio compõe-se de 28 volumes - 17 de texto e 11 de ilustrações - organizados em ordem alfabética e publicados de 1751 a 1772. Entre 1776 e 1780, outros editores publicam mais sete volumes, totalizando 35.

Chamada de Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e dos Ofícios, revela preocupação pioneira com a especialização intelectual e atrai como colaboradores grandes nomes da época, como Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Quesnay. Fundamentada no racionalismo, rejeita todo saber ligado à religiosidade. Os dois primeiros volumes são censurados pelo rei francês Luís XV (1710-1774), em 1752, por atacar de forma direta a monarquia. Em 1759, também é condenada pelo papa Clemente XIII (1693-1769).

Atualmente, a palavra designa toda obra de referência sobre vários ramos do conhecimento, dispostos em ordem alfabética.

Os gregos, ao que parece, entenderam o termo enciclopédia como sistema completo de instrução, ou círculo (enkyklos) de aprendizagem (paideia), expressão que corresponde ao que modernamente se denomina cultura geral. O termo enciclopédia foi usado pela primeira vez em língua inglesa por Sir Thomas Elyot, em The Governour (1531), e em língua francesa por Rabelais, em Pantagruel (1532). Não se conhece seu emprego em título de livro na antiguidade ou da Idade Média.

A Encyclopédie de Diderot e D'Alembert, publicada no século XVIII, serviu de modelo para todas as enciclopédias elaboradas desde então. Essa obra, muito além de sintetizar o saber da época, constituiu a base da renovação do pensamento filosófico e científico.

Primeiras enciclopédiasOs filósofos gregos lançaram as bases das classificações mais tarde usadas nas enciclopédias, mas os romanos foram os primeiros a organizar obras que continham informações referentes a todas as áreas do conhecimento. Em quatro obras -- Antiguidades das coisas humanas e divinas, Disciplinas, Retratos e Sobre a agricultura -- Varrão (século I a.C.) empregou a organização em quatro sistemas que seria adotada pelos enciclopedistas posteriores: história, artes, biografias e palavras. Os 37 livros da História natural, de Plínio o Velho, completada no ano 77 e tida como a mais antiga enciclopédia ocidental, contêm 2.493 capítulos organizados por assunto.

Sobre o casamento da Filologia com Mercúrio, de Martianus Capella, trata das artes liberais e, como a obra de Plínio, foi de grande influência na Idade Média, cujos primeiros enciclopedistas foram são Jerônimo, Cassiodoro e Isidoro de Sevilha. A partir do século XII apareceram diversas obras enciclopédicas, a maior parte delas organizada por assunto.

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No mundo bizantino, duas obras se destacaram: a Bibliotheca (c. 857), de Fócio, e De omnifaria doctrina, de Psellos. Os sábios muçulmanos, que inicialmente enfrentaram o problema de conciliar a filosofia grega com o islamismo, manifestaram tendência para o enfoque enciclopédico. Particularmente importantes são o Catálogo das ciências, de al-Farabi; Chaves da ciência, de al-Khwarizmi; Kitab al-shifa, enciclopédia filosófica de Avicena, e Colliget, enciclopédia médica de Averroés.

As enciclopédias chinesas, como algumas compilações ocidentais, consistiam em extratos de obras. As mais conhecidas são a Tai-ping yulan, de Wu Chu e Li Fang, do século X, composta de mil livros, e Grande padrão, compilada do século XV sob a direção do imperador Yung-lo, que compreendia 22.937 livros. A literatura hindu não possui enciclopédias no estilo das que existiam na Europa, no mundo muçulmano e na China, mas pode-se considerar as puranas, do século II ao VI, como compilações desse tipo.

Entre o século XIV e fins do XVI, quatro filósofos exerceram influência determinante sobre o conceito de enciclopédia: Raimundo Lúlio, que desenvolveu uma "arte" dividida em três partes: linguagem, gramática e uma enciclopédia do conhecimento; Petrus Ramus, que reorganizou as artes liberais e a filosofia; Francis Bacon, que dedicou seu gênio à organização e ao avanço do conhecimento, e Comenius, que propôs uma reforma da educação, segundo a qual a "luz universal" seria difundida por meio de livros, escolas e linguagem universais.

Enciclopédias modernas - Entre as enciclopédias do século XVII destacaram-se, por sua extensão e organização: Anatomia ingeniorum et scientiarum, de Antônio Zara; Encyclopaedia septem tomis distincta, de Johann Heinrich Alsted; e Le Grand Dictionnaire historique, ou le Mélange curieux de l'histoire sacrée et profane, alfabeticamente estruturado, que foi traduzido para o inglês, alemão, holandês e espanhol.

No século XVIII, o frade franciscano Vincenzo Maria Coronelli trabalhou numa enciclopédia alfabética, Biblioteca universale sacro-profana, prevista para 45 volumes, dos quais apenas sete foram publicados (1701-1706). Seguiram-se o Lexicon technicum, or Dictionary of the Arts and Sciences (1704), de John Harris, a primeira enciclopédia alfabética em língua inglesa. Em 1728, Ephraim Chambers publicou sua Cyclopaedia; or An Universal Dictionary of Arts and Sciences, cuja edição ampliada e revista foi publicada por Abraham Rees, em 1779-1788, e serviu de base para a Cyclopaedia de Rees, em 45 volumes. Johann Heinrich Zedler, livreiro de Leipzig, publicou, entre 1732 e 1750, seu Grosses vollständiges universal Lexicon, em 64 volumes, a mais abrangente e completa enciclopédia até então editada.

EncyclopédieO empreendimento literário e filosófico que maior influência exerceu sobre a vida política, social e intelectual da Europa do século XVIII foi a Encyclopédie francesa. Programada para oito volumes de texto e dois de estampas impressas, contou com o concurso de 160 colaboradores e despertou enorme interesse, mas custou duras lutas contra resistências políticas e religiosas, só superadas pela perseverança de seu editor, Denis Diderot.

A história da Encyclopédie começou quando os direitos de publicação de uma tradução francesa da Cyclopaedia, de Chambers, foram oferecidos, em 1745, pelo inglês John Mills ao editor André Le Breton. Depois de um desentendimento com Mills, Le Breton rompeu o contrato, ampliou seus planos para uma obra em dez volumes e procurou a colaboração de três outros editores. Em 1745, D'Alembert e o abade Jean-Paul de Guade Malves associaram-se ao empreendimento e dois anos mais tarde Diderot assumiu a direção geral da Encyclopédie, exceto da parte de matemática, editada por Jean le Rond D'Alembert.

As traduções dos verbetes de Chambers foram abandonadas por sua má qualidade, erros e omissões. O primeiro volume apareceu em 1751, o segundo em 1752 e o terceiro em 1753, seguindo-se a publicação de um volume por ano até 1757. Certos verbetes suscitaram críticas de católicos e protestantes, o que levou D'Alembert a renunciar ao cargo de editor em 1758. No ano seguinte, a Encyclopédie foi incluída na lista das obras perigosas. Os últimos dez volumes de texto foram concluídos em 1765 e os 11 volumes de lâminas se completaram em 1772.

Com exceção de Rousseau e do barão d'Holbach, o grupo de escritores reunido por Diderot e D'Alembert para colaborar na obra era inicialmente quase desconhecido, mas a fama da Encyclopédie e os ataques de que foi objeto atraíram diversos colaboradores de peso. Após a morte do último editor original, Charles Joseph Panckoucke lançou um Supplément da Encyclopédie em quatro volumes de texto e um de lâminas, aos quais, mais tarde, adicionou dois volumes de índice preparados por Pierre Mouchon. Estes sete volumes, juntamente com os 28 elaborados sob a supervisão de Diderot, constituem a primeira edição da Encyclopédie, com 35 volumes in folio.

Em 1780, Panckoucke obteve os direitos de publicação de uma nova edição da obra reorganizada em forma de dicionários separados, sob o título de Encyclopédie méthodique ou par ordre de matières. Em 1788 o projeto inicial foi reformulado e se adotou um novo plano de divisão dos assuntos em 44 partes e 51 dicionários. Os trabalhos prosseguiram durante os anos da revolução francesa e foram concluídos em 1832, com o lançamento do volume 166.

Encyclopaedia BritannicaOutra das mais importantes enciclopédias do século XVIII foi a Encyclopaedia Britannica; or, a Dictionary of Arts and Sciences, editada em Edimburgo por Andrew Bell e Colin Macfarquhar, entre 1768 e 1771, com três volumes, 2.689 páginas e 160 lâminas, compilada de acordo com um novo plano em que as ciências e as artes eram sintetizadas em tratados ou sistemas. Para a segunda edição, o plano da obra foi ampliado com a inclusão de histórias e biografias: saiu em dez volumes e também em fascículos.

As sucessivas edições constituíram um êxito de vendas nos Estados Unidos, a tal ponto que, em 1901, uma empresa americana organizada para comercializar a Encyclopaedia Britannica em todo o mundo adquiriu os direitos da obra. Em 1920 esses direitos foram comprados pela Sears, Roebuck and Co. E. H. Powell, que em 1932 se tornou presidente da Encyclopaedia Britannica, Inc. formulou o plano de revisão contínua, segundo o qual novas impressões corrigidas e ampliadas passaram a ser lançadas anualmente; um anuário, o Britannica Book of the Year, passou a atualizar as informações contidas na obra.

Em 1941, William Benton, vice-presidente da    Universidade de Chicago, convenceu a Sears a doar a Encyclopaedia Britannica à universidade, que, no entanto, recusou-se a assumir os riscos financeiros da operação. Benton tornou-se então presidente do conselho de diretores da empresa e seu maior acionista.

Século XIX Três tendências assinalaram o desenvolvimento das enciclopédias no século XIX: (1) a combinação dos verbetes sobre artes e ciências com verbetes biográficos, geográficos e históricos; (2) o desenvolvimento de enciclopédias de verbetes curtos, enciclopédias sistemáticas de verbetes longos e enciclopédias de verbetes longos e curtos; e (3) equilíbrio da ordem alfabética com as disposições tópicas ou sistemáticas.

A primeira enciclopédia importante do século XIX foi a alemã Brockhaus Konversations-Lexikon, lançada em 1796 por Gotthelf Renatus Löbel com o título de Frauenzimmer-Lexicon e adquirida por Friedrich Arnold Brockhaus em 1808. Obra que trazia informações sumárias sobre todos os assuntos, a Brockhaus exerceu influência sobre enciclopédias de diversos países, especialmente da Dinamarca, Suécia, Noruega, Países Baixos, Hungria, Rússia, França, Itália e Espanha. Outras destacadas enciclopédias alemãs foram a Meyers Grosses Konversations-Lexikon, em 46 volumes, e a Allgemeine Enzyklopädie der Wissenschaften und Künste, em 167 volumes, caracterizada por suas longas monografias.

Entre as enciclopédias inglesas, as principais foram a Cyclopaedia, de Rees, em 45 volumes; a Encyclopaedia Metropolitana, em 25 volumes, e a British Cyclopaedia, em dez volumes. Nos Estados Unidos destacaram-se a New American Cyclopaedia, em 16 volumes, e a New Universal Cyclopaedia, em quatro volumes, reeditada em oito volumes sob o título de Johnson's Universal Cyclopaedia.

Na França são importantes o Grand dictionnaire universel du XIX siècle, em 15 volumes, de Pierre Larrousse, considerado obra de vulgarização, misto de dicionário e enciclopédia; e a Grande encyclopédie, inventaire raisonné des sciencies, des lettres e des arts, em 31 volumes, de organização alfabética, considerada uma das melhores enciclopédias do mundo.

Século XXAs facilidades de comunicações, os novos métodos de comercialização de livros e os modernos conceitos de educação generalizaram o uso de enciclopédias gerais, especializadas e dicionários enciclopédicos. Nos Estados Unidos, além das obras gerais, como a Grolier's Universal Encyclopedia (dez volumes) e The Encyclopedia Americana (trinta volumes), apareceram diversas pequenas enciclopédias destinadas ao público juvenil.

As principais enciclopédias francesas do século XX  são a Larousse du XX siècle (seis volumes), Grand Larousse (dez volumes), Encyclopédie française (vinte volumes), Encyclopédie de la Pléiade, planejada para quarenta volumes e a Encyclopaedia Universalis (23 volumes). Na Itália, apareceram, além da grande Enciclopedia italiana di scienze, lettere ed arti, em 36 volumes, dirigida por Giovanni Treccani, o Dizionario enciclopedico italiano, em 12 volumes, e a Enciclopedia cattolica, publicada pelo Vaticano, também em 12 volumes.

Das enciclopédias alemãs, merecem referência as novas edições da Der Grosse Brockhaus, do Meyers Grosses Konversations-Lexikon e a Der Grosse Herder. Na antiga União Soviética, o preparo da primeira edição da Bolshaia sovetskaia entsiklopedia, em 65 volumes, prolongou-se de 1926 a 1947. Nos países de língua castelhana, além das obras editadas pela Encyclopaedia Britannica, Inc -- Barsa e Hispánica --, cabe mencionar a monumental Enciclopedia universal ilustrada europeo-americana, editada entre 1905 e 1953 pela Espasa-Calpe, que com o acréscimo de suplementos superou os cem volumes.

Um fato novo na última década do século foi o lançamento de enciclopédias em suporte eletrônico, ou seja, CD-ROM. Normalmente, essas enciclopédias incorporam, além de textos e fotografias, jogos  educacionais ou recreativos, sons e imagens em movimento, que caracterizam a chamada multimídia.

Enciclopédia no BrasilA primeira enciclopédia a dar alguma ênfase aos assuntos brasileiros foi a Encyclopedia e Diccionario Internacional (Lisboa, 1919, em vinte volumes), de organização alfabética, escrita por colaboradores portugueses e brasileiros. Igualmente publicada em Lisboa e, nominalmente, no Rio de Janeiro, a Grande enciclopédia portuguesa e brasileira (1935-1960), em quarenta volumes, dedica-se a assuntos portugueses mas inclui um suplemento, em quatro volumes, referente ao Brasil. Possui disposição alfabética.

A Enciclopédia brasileira Mérito (Rio de Janeiro, 1958-1964, vinte volumes) também possui organização alfabética; tem características de dicionário enciclopédico. A primeira enciclopédia brasileira estruturada por assunto, a Enciclopédia Delta-Larousse (Rio de Janeiro, 1960, 15 volumes), teve as matérias de interesse universal traduzidas da Encyclopédie Larousse méthodique. Outra coleção da empresa foi a Grande enciclopédia Delta-Larousse (Rio de Janeiro, 1970, 15 volumes) também alfabética e ilustrada a cores. Os temas universais foram traduzidos do Larousse trois volumes.

Com ênfase nos assuntos nacionais e inteiramente escrita por colaboradores brasileiros, foi lançada em 1964 a Enciclopédia Barsa, em 16 volumes, com organização alfabética e atualizada por um Livro do ano.

Em 1975 a Encyclopaedia Britannica do Brasil lançou a maior das enciclopédias brasileiras, a Enciclopédia Mirador internacional. Com direção editorial do filólogo Antônio Houaiss, foi publicada em vinte volumes e mais de 12.000 páginas.

Em 1997, depois de inúmeras revisões anuais, a Enciclopédia Barsa teve publicada a presente edição, inteiramente reformulada e ilustrada em cores. Dividida em quatro partes, compreende 18 volumes: 14 da Macropédia, com textos longos; dois da Micropédia, para consulta rápida; um da Datapédia, que reúne dados estatísticos ou perecíveis; e um da Temapédia, um amplo guia de estudos.

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