O Congresso de Viena e a Santa Aliança
Depois de mais de duas décadas de guerras, alterações territoriais e deposições de casas reais, os países vencedores procuraram alcançar uma paz duradoura na Europa. Reunidos no Congresso de Viena, os principais governantes europeus objetivavam alcançar o equilíbrio de forças e o restabelecimento da velha ordem. O encontro, iniciado em 1814, foi interrompido temporariamente, durante os “Cem Dias” de Napoleão.
Apesar dos ideais, os interesses particulares de países, como a Inglaterra, que desejava manter sua hegemonia marítima e domínio de mercados; a Rússia, que pretendia a hegemonia universal; a Áustria a hegemonia no continente europeu, e a Prússia, a hegemonia sobre os países germânicos dominaram os trabalhos. A França “restaurada” também participou ativamente do Congresso.
Curiosamente, os diplomatas realmente se reuniam nos intervalos de bailes, passeios e banquetes. Destacaram-se Metternich, chanceler austríaco e inspirador do Congresso; Talleyrand, representante francês, que agia com astúcia para diminuir as punições que certamente a França sofreria; Castlereagh, defensor dos interesses comerciais britânicos; Alexandre I, czar russo, ultra religioso e reacionário, ambicioso por mais possessões territoriais; e Frederico Guilherme III, rei da Prússia, que almejava a unificação dos Estados alemães sob sua liderança.
O diplomata francês propôs o “princípio da legitimidade”, ou seja, todos os soberanos legítimos deviam ser restaurados nos seus direitos, o que significava a volta de reis absolutistas ao poder. Eles deviam pertencer às dinastias que governavam antes de 1789. Assim, foram restaurados Luís XVIII na França, da dinastia Bourbon; Fernando VII, na Espanha, também Bourbon, e a soberania papal sobre todos os antigos territórios.
Talleyrand também defendia o retorno às fronteiras europeias do período anterior à Revolução Francesa de 1789, uma manobra para preservar a integridade territorial da França. O Congresso de Viena organizou o “equilíbrio europeu”, repartindo territórios entre os soberanos, sem considerar os povos que os habitavam. Como exemplo, a católica Bélgica foi unificada à calvinista Holanda.
Por seu lado, a Inglaterra, preocupada com pontos estratégicos, apossou-se de Malta, uma ilha no Mediterrâneo; do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África; da ilha do Ceilão, na Ásia. Assim, ampliou bases para assegurar domínio das rotas comerciais. E obteve ainda a recomendação de que todos os países deveriam abolir o tráfico negreiro e acabar com a escravidão. O capitalismo industrial britânico necessitava de mercados.
Para sufocar qualquer manifestação revolucionária no continente europeu, foi fundada a Santa Aliança, no dia 25 de dezembro de 1815, idealizada pelo czar Alexandre I. Era uma organização supranacional para impedir que o liberalismo pudesse novamente ser implantado em qualquer país da Europa. Algumas tentativas de revoluções liberais democráticas foram sufocadas pela Santa Aliança. A intervenção militar mais importante ocorreu na Espanha, em 1822, restabelecendo o absolutismo.
Como as colônias espanholas haviam se aproveitado da deposição de Fernando VII por Napoleão e proclamaram a sua independência, a Santa Aliança trabalhou para que a Espanha as recuperasse e restabelecesse seu monopólio comercial.
Porém, a Inglaterra, país industrial e parlamentar, se colocou radicalmente contra a intervenção europeia na América. O seu interesse era preservar a independência das ex-colônias, já então mercados controlados diretamente por ela. Sem força naval, a Santa Aliança não teve condições de impor sua vontade.
Paralelamente, o presidente americano James Monroe se posicionou como defensor natural da América, com a edição da Doutrina de Monroe, em 1823, sintetizada na frase “América para os americanos”. Os Estados Unidos, ao garantir a independência das ex-colônias ibéricas, tentavam reservar áreas e mercados para a sua futura influência.
A Santa Aliança, entidade reacionária, absolutista, era anacrônica, portanto incapaz de deter o avanço do liberalismo, dos movimentos nacionalistas na Europa e emancipacionistas na América.
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