Populações e Etnias Africanas
Os habitantes do continente africano apresentam
grande variedade de características raciais. Desde o paleolítico
inferior, ali viveram grupos étnicos muito diferenciados: negroides,
caucasoides, etíopes, bosquímanos, pigmeus e, em épocas mais recentes
mas ainda pré-históricas, mongoloides. É difícil e até arriscado
descrever pormenorizadamente as etnias africanas, já que nem sempre as
características antropométricas coincidem com as línguas e dialetos
falados pelos diferentes grupos étnicos ou com outros traços culturais
diferenciadores.
Grandes espaços culturais
As diversas regiões do continente africano se
mantiveram primitivamente e, até certo ponto, em comunicação entre si. O
aparecimento do deserto do Saara, ocorrido em época relativamente
recente (12000-8000 a.C.) e que coincidiu com o fim do último período
glacial, dividiu o continente em duas zonas, do ponto de vista cultural:
enquanto a faixa norte continuou a relacionar-se com o Oriente Médio,
berço de civilizações, a África subsaariana transformou-se numa área
isolada, sobre a qual as culturas históricas do Mediterrâneo e da
Mesopotâmia quase não exerceram influência.
Etnias africanas
De modo geral a raça caucasoide se espalhou pelo
norte, enquanto a propriamente negroide conquistou a maior parte do
continente ao sul do Saara (área que hoje é chamada de África negra), em
detrimento dos grupos raciais mais primitivos, pigmeus e bosquímanos.
Tendo antes ocupado a maior parte da África, esses grupos acabaram
reduzidos a alguns encraves na selva e na savana (pigmeus) e a zonas
desérticas ou subdesérticas do sudoeste do continente (hotentotes). Por
outro lado, no planalto etíope e no chamado Chifre da África fixou-se
um tipo étnico muito peculiar, que reúne características caucásicas e
negroides. A fixação em Madagascar, poucos séculos antes da era cristã,
de navegadores procedentes do Sudoeste Asiático iria misturar sangue mongoloide ao da população da ilha. Por fim, já em épocas históricas,
vários fatores modificaram consideravelmente o mapa étnico do
continente: a expansão árabe para o ocidente (ao longo da faixa
mediterrânea) e até Zanzibar (pela costa oriental), o comércio de
escravos e a colonização europeia.
Primeiros agricultores da África
Por volta de 4500 a.C. desenvolveram-se na África dois núcleos independentes de agricultura: o egípcio e o sudanês.
O primeiro, relacionado com as primeiras culturas agrícolas da Ásia,
irradiou-se por toda a faixa ao norte do Saara e, de modo menos intenso,
na direção sul, pelo vale do Nilo. O núcleo sudanês surgiu
provavelmente no alto Níger, entre os povos mandê; sua agricultura,
baseada no cultivo do sorgo (embora se plantassem outras espécies, como o
gergelim e o algodão), estendeu-se pela savana subsaariana até
constituir o chamado corredor do sorgo e chegar ao alto Nilo, onde
encontrou a irradiação cultural egípcia. Ao longo de sua expansão, os
povos negroides foram pouco a pouco expulsando os caçadores pigmeus, de
cultura menos evoluída, que antes povoavam as savanas subsaarianas.
Alguns séculos antes da era cristã, à época em que cartagineses, gregos e
romanos ampliavam seu domínio no norte da África, enquanto decaía a
civilização egípcia, chegaram às costas de Madagascar e do leste do
continente navegadores malaios que introduziram um novo sistema de
lavoura; baseada principalmente no inhame, incluía também o cará e a
banana. Tais culturas, mais apropriadas às zonas úmidas da selva do que
às do complexo sudanês já descrito, foram avançando para o oeste,
seguindo o vale do rio Congo, até chegarem ao litoral do Atlântico.
Assim se formou o que se convencionou chamar de corredor do inhame.
O povo negroide, o banto, originário de uma região situada no que seria hoje a fronteira entre o Camarões e a Nigéria, adotou com muito êxito a cultura do inhame e se estendeu pela selva equatorial em direção ao leste, até alcançar as costas do Índico, e ao oeste, pela faixa litorânea do golfo da Guiné. Em contato com os povos pastores nilóticos da região dos lagos, os bantos recém-chegados mudaram radicalmente seu modo de vida e também se transformaram em pastores. Em muitos pontos da costa, os bantos se arabizaram e constituíram os povos suaílis. Ao continuarem a expansão para o sul, foram acuando os bosquímanos e, já em época muito recente, em concorrência com os europeus, ocupando territórios próximos ao extremo meridional do continente.
Como já foi dito, as culturas sudanesa e egípcia se encontraram no alto Nilo, de onde, por volta de 4000 a.C., povos negroides tinham afastado os caçadores primitivos. A agricultura de tipo sudanês se estendeu até o planalto etíope, habitado por povos cuchitas, de raça caucasoide. Mais tarde, em torno do ano 700 a.C., povos semitas procedentes da Arábia invadiram o território. O resultado de tudo isso é o mosaico racial que constitui hoje a característica mais evidente das comunidades que habitam a região entre o Nilo e o extremo oriental do continente africano.
Principais tipos étnicos africanos
Povos paleoafricanos
Reduzidos a
bandos dispersos que, na segunda metade do século XX não ultrapassavam
200.000 indivíduos, os pigmeus são povos caçadores e coletores, embora
em alguns casos tenham na pesca seu principal meio de subsistência.
Encontram-se principalmente no Camarões, no Gabão e na bacia do Congo.
São de baixa estatura, que raramente ultrapassa um metro e meio. A pele,
pardo-amarelada, é brilhante e pilosa. O cabelo é negro e
encarapinhado; o nariz, largo; e o rosto, ovalado.
Os bosquímanos são de baixa estatura, pele pardacenta com pouca pilosidade e cabelo curto, negro e muito encarapinhado. Sua área de distribuição chegou a ser bem extensa, já que compreendia toda a África austral e oriental. A partir do século X a.C. foram sendo progressivamente deslocados pelos povos bantos, num processo ininterrupto até o século XVIII.
Hoje, seu habitat se reduz às zonas áridas do sudoeste africano. A mais conhecida manifestação cultural dos povos bosquímanos são as pinturas rupestres encontradas na África do Sul, algumas muito antigas.
Os hotentotes, provavelmente originários da união entre bosquímanos e povos negros, são um pouco mais altos que os primeiros, mas têm características raciais muito semelhantes. Junto com os bosquímanos, constituem os chamados povos khoi-san.
Povos caucasoides
Na África mediterrânea, a contribuição cultural árabe
não teve equivalente no contingente humano: o tipo físico predominante
continua sendo o primitivo berbere, de raça caucasoide, sub-raça
mediterrânea, de estatura superior à dos povos do sul da Europa. Essa
raça tem pele moreno-clara, cabelos castanho-escuros ou negros, lisos ou
ondulados, nariz pequeno, olhos castanhos, lábios finos ou medianos e
abundante pilosidade facial e corporal. O tipo berbere se conserva com
bastante pureza na Cabília argelina, no Rif e no Atlas marroquino. Com
as invasões árabe e beduína (séculos VII e XI), alguns povos berberes
ocuparam os oásis do Saara, desalojando os primitivos habitantes
negroides. Supõe-se, embora alguns especialistas discordem, que os
guanchos das ilhas Canárias eram de etnia berbere.
Os povos cuchitas dos planaltos da Etiópia têm pele morena, estatura elevada, cabelo negro e ondulado, lábios pouco grossos, nariz pequeno e proeminente e abundante pilosidade facial e corporal.
Povos etíopes
A
raça etíope é de estatura média, tez moreno-escura, crânio e nariz
pequenos, lábios finos e pouca pilosidade corporal. Ainda se discute se
ela resultou da união entre as raças caucasoide e negroide ou de uma
raça primitiva na qual não teria ocorrido a diferenciação de traços. No
planalto etíope e em sua periferia habitam numerosos povos distintos
entre si. Os afars são caucasoides com grande proporção de sangue árabe.
Nos somalis, de cor mais clara, também se notam traços negroides.
Povos mongoloides
Entre os povos malgaxes, os merinas são os que reúnem
maior número de características mongoloides. São de baixa estatura, cor
moreno-amarelada, cabelo negro e liso, pouca pilosidade facial e
corporal e olhos escuros. Conservam o epicanto (dobra da pele no ângulo
interno do olho) característico da raça amarela.
Povos negroides
Os povos negroides constituem a raça negra propriamente
dita. Ocupam a África subsaariana, à exceção do extremo oriental,
habitado por povos etíopes, e dos encraves de pigmeus (na África
central), bosquímanos, hotentotes e brancos (no sul). Sua característica
distintiva fundamental é a cor da pele, que no entanto pode variar do
moreno-escuro ao negro-retinto. É de notar-se o prognatismo, isto é, a
proeminência das maxilas. Têm nariz largo, cabelo negro e encarapinhado,
lábios tendentes ao grosso e pômulos salientes. O pelo facial e
corporal é escasso. A estatura varia, de um povo a outro, de média a
muito alta. Distinguem-se várias sub-raças: sudanesa, nilótica,
guineense-congolesa e banta.
Os povos sudaneses correspondem à zona de savana subsaariana. Têm alta estatura, pele muito escura e acentuado prognatismo.
Os
povos nilóticos ocupam o alto vale do Nilo, do lago Vitória à
confluência com o Nilo Azul. Nos últimos séculos, penetraram bastante em
direção ao sul, até as margens do lago Tanganica. Os nilóticos se
destacam pela alta estatura, corpo pequeno e membros longos. A cabeça é
também pequena e os lábios um pouco grossos.
Os povos guineenses e congoleses ocupam a costa da Guiné e a região de selva equatorial e savana ao sul desta, na África central. Geralmente mais baixos que os sudaneses e com membros mais curtos, têm lábios grossos e forte prognatismo.
Os povos bantos do leste e do sul da África ocupam a extensa região que vai dos grandes lagos até o extremo meridional do continente. Em geral, têm estatura alta, pele relativamente clara e prognatismo menos acentuado que o dos povos sudaneses, guineenses e congoleses.
Fonte: http://www-geografia.blogspot.com.br/