Drama na Literatura

Drama na Literatura

Drama na Literatura

Em sentido geral, drama é toda composição literária que expõe uma ação por meio de personagens que falam e agem entre si em aparente objetividade, excluindo a presença de um autor que conduza a narrativa (forma épica) ou extravase sentimentos pessoais (lírica). Nesse sentido, define-se como um dos três gêneros literários fundamentais, ao lado do épico e do lírico, segundo a visão clássica de Platão, sistematizada por Aristóteles e desenvolvida dialeticamente por Hegel. Em sentido estrito, historicamente mais rigoroso, trata-se de um gênero que surge em determinadas circunstâncias histórico-sociais, um capítulo da literatura teatral assim como a tragédia, a comédia, o auto medieval, a farsa etc.

A classificação das obras literárias segundo o gênero - épico, lírico e dramático -, estabelecida pelos pensadores gregos da antiguidade, manteve-se inalterada durante séculos e deu lugar a inúmeras controvérsias teóricas dentro das diversas correntes de pensamento que têm procurado apreender e explicar a multiplicidade do fenômeno literário.

Como gênero teatral, o drama surgiu em meados do século XVIII, quase ao mesmo tempo que a revolução francesa, graças ao empenho teórico-prático dos intelectuais do Iluminismo, como os enciclopedistas franceses (sobretudo Diderot) e os teóricos que lutavam por um teatro nacional burguês na Alemanha pré-romântica (principalmente Lessing). Nasceu com a ascensão da burguesia, comprometido com uma exigência definida de realismo e verdade social.

Alguns dos elementos que viriam a constituir o drama podem ser encontrados nas peças satíricas da antiga Grécia e no drama litúrgico da Idade Média. Durante o Renascimento, ao lado da imitação dos modelos clássicos que dominou a arte ocidental, surgiram reações diversas contra o artificialismo do teatro: na Itália, a commedia dell'arte; na Espanha, o drama teológico de Calderón de la Barca e a obra de Lope de Vega, que antecipa o drama revolucionário com Fuenteovejuna e inventa a comédia de capa-e-espada, com personagens burgueses; na Inglaterra, o teatro de Shakespeare e contemporâneos despreza a regra das unidades e mistura o cômico ao trágico.

Drama burguêsAs reflexões sobre as relações sociais caracterizam o novo gênero, o drama burguês, em que os heróis são personagens da vida cotidiana, semelhantes ao público burguês -- público racional a que só o mundo real poderia agradar, como afirmou Diderot.

Na Alemanha, Lessing, expoente do Iluminismo, propõe um teatro nacional e burguês na obra Hamburgische Dramaturgie (1767-1769; Dramaturgia de Hamburgo). Seu pensamento seria fundamental na eclosão do movimento pré-romântico alemão, influenciando o grupo Sturm und Drang (Tempestade e ímpeto) e os então jovens Goethe e Schiller.

Pré-romantismo alemão O início do romantismo alemão se encontra no grupo Sturm und Drang, nome tomado a uma peça de Maximilian Klinger cuja ação mistura cenas desconcertantes sem unidade ou coerência. O pré-romantismo proclama um individualismo anárquico, numa explosão lírica impetuosa e irracional, que traz o impacto das mitologias e das religiões. Situa-se entre o instinto e o intelecto, a primitiva inocência e o mundo civilizado.

As duas figuras mais notáveis do drama pré-romântico alemão são justamente Goethe e Schiller, que em suas obras fundamentais abandonam o ímpeto da mocidade, trocando-o por uma severa disciplina clássica. O primeiro é autor de um dos grandes momentos da literatura universal, Fausto, que reúne ao mesmo tempo elementos dramáticos, épicos e líricos. Schiller aparece como um dos fundadores do drama pré-romântico alemão, principalmente com Die Räuber (1781; Os salteadores).

Contemporâneo do romantismo alemão propriamente dito é Heinrich von Kleist. Um lugar à parte merece a obra de Georg Büchner, que antecipa o expressionismo e o teatro épico, ao mesmo tempo profundamente vinculada aos grandes temas metafísicos e políticos  do início do século XIX.

A explosão do subjetivismo romântico iniciado na Alemanha atingiria a França com Victor Hugo, Alexandre Dumas e Alfred de Musset, e a Rússia, com Pushkin. O drama romântico retoma a tradição shakespeariana e medieval, mesclando-a com o melodrama popular cultivado por August von Kotzebue, na Alemanha, e Guilbert de Pixérécourt, na França.

Drama realista O realismo na França se iniciou com os romances de Flaubert e Balzac e continuou no teatro com Alexandre Dumas Filho, celebrizado pela peça La Dame aux camélias (1852; A dama das camélias). Entretanto, a estrutura do drama realista atingiu o ponto máximo na obra do norueguês Ibsen, cujo teatro é um levantamento impiedoso dos valores da burguesia. A partir dele, todo o grande teatro se transforma em contestação da sociedade vigente, processo que culmina na contestação do próprio drama como forma pura.

O realismo psicológico marca a primeira fase de August Strindberg, na Suécia. Em sua segunda fase, ele é místico, herdeiro de Dostoievski e Nietzsche, anunciador de Kafka e Pirandello. Dessa fase é a peça Till Damaskus (1898-1904; O caminho de Damasco), que pode ser considerada a primeira contestação drástica do drama como forma literária e o princípio do expressionismo. Inicia-se a subjetivação radical na literatura dramática. Elementos líricos penetram o drama e começa a aparecer em seguida o teatro de Wedekind, precursor do expressionismo.

Na Rússia, o encontro de dois extraordinários homens de teatro, Stanislavski e Dantchenko, foi a origem do Teatro de Arte de Moscou. Esse teatro se materializou, como repertório, com a obra de dois dos mais importantes dramaturgos de todos os tempos: Tchekhov e Gorki. Tchekhov construiu suas peças a partir da ausência de intriga, em oposição à "peça bem-feita". Eliminou os chamados nós dramáticos e levou o naturalismo às últimas consequências, a ponto de superá-lo por uma espécie de neo-impressionismo ainda mais realista e revelador. Gorki retomou o tema de Tchekhov, o fim da burguesia, e anunciou os novos tempos revolucionários. Em sua obra fundamental, Na dne (1902; Ralé), desenvolveu um novo tipo de realismo crítico.

Com o inglês Bernard Shaw, mais que com Ibsen e Tchekhov, manifestou-se a impossibilidade de tratar certos temas dentro da estrutura dramática tradicional. Os três autores, em medidas diferentes, chegaram a um impasse formal. Os limites do drama ficaram evidentes e Shaw praticamente desmontou seus últimos preconceitos.

Contestação do realismoNa Alemanha explodiu o expressionismo, às vezes revolucionário, como na obra de Ernst Toller, em geral extremamente subjetivista, com imenso vigor lírico em seus mais autênticos representantes, como Carl Sternheim, Georg Kaiser e Arnold Bronnen. Surgiu o teatro político, baseado no documento e na agitação revolucionária, vinculado aos movimentos revolucionários de seu tempo, em torno da figura de um dos maiores encenadores, Erwin Piscator. Surgiu sobretudo o grande homem de teatro do século XX, Bertolt Brecht.

Nos Estados Unidos, Eugene O'Neill, com obras de grande vigor e influência decisiva nos dramaturgos posteriores, foi visivelmente influenciado por Strindberg e Ibsen, por Wedekind e Freud.
Na Itália, Pirandello descobriu a teatralidade na própria crise entre a ficção e a realidade. Suas obras dão ênfase à trágica condição humana. Está aberto o caminho para mais uma negação do drama, o teatro do absurdo, de Beckett e Ionesco.

Drama contemporâneoOs autores contemporâneos que não se desvincularam dos esquemas tradicionais da estrutura dramática são, nos Estados Unidos, os dramaturgos ligados aos movimentos políticos da década de 1930, como Clifford Odets, Lilian Hellman, Tennessee Williams e, sobretudo, Arthur Miller. Cite-se ainda Edward Albee que, em certo sentido, retoma Strindberg. Outros pontos de referência necessários são, na Inglaterra, o teatro rebelde de John Osborne e Arnold Wesker; na França, as peças de tese existencialistas de Camus e Sartre; na Itália, a dramaturgia de Ugo Betti.

A contestação ao drama veio com obras que constituem uma crítica demolidora aos valores tradicionais da burguesia: o teatro dos expressionistas, o teatro do absurdo de Beckett e Ionesco e, principalmente, o teatro épico de Brecht. Experiências dramatúrgicas recentes tornaram-se também a própria negação do drama, com uma linguagem cênica despojada de artifícios, tentativas de retorno aos rituais primitivos, supervalorização do espetáculo ou do improviso em detrimento do texto, e com o teatro de rua. Na obra de Brecht, a antiga divisão em gêneros perdeu o sentido: elementos tidos como essenciais da poesia épica se incorporaram à poesia dramática, da mesma forma que o expressionismo incorporou elementos da lírica.

O drama, embora transformado, resistiu. Muitas das peças que incorporaram conquistas formais e estruturais lançadas pelo expressionismo e pelo teatro épico mantiveram, não obstante, as leis tradicionais do realismo psicológico, como se observa na melhor dramaturgia americana do século XX.

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