Antibióticos, Substâncias Orgânicas Produzidas Por Vegetais ou Animais

Alguns seres vivos, particularmente bactérias e fungos, elaboram substâncias que impedem a reprodução de outros microrganismos, e em muitos casos causam sua morte. A partir de meados do século XX o homem aprendeu a utilizar em seu benefício, e até mesmo a sintetizar, muitas dessas substâncias, conhecidas como antibióticos. Graças a elas, a medicina obteve importantes êxitos contra infecções como a sífilis, a tuberculose, as pneumonias e inúmeras micoses ou infecções por fungos.
Penicilina - A descoberta da penicilina é apontada como a maior contribuição da ciência médica do século XX, pois abriu um campo inteiramente novo na terapêutica. Em 1928 o britânico Alexander Fleming observou que um mofo, Penicillium notatum, segregava uma substância capaz de inibir o crescimento do Staphylococcus aureus. Denominou-a penicilina, sem tê-la, contudo, isolado. Sir Ernst Boris Chain e Howard Walter Florey obtiveram penicilina em estado cristalizado, permitindo seu emprego clínico. No processo de cristalização e purificação conseguiram-se seis frações: F, G, X, O, V e K. Entretanto, a única de amplo uso atual é a penicilina G, em combinação com sódio, potássio ou cálcio. A penicilina é inativada pelo suco gástrico. Existem, porém, penicilinas que, por seu preparo e concentração, podem ser administradas oralmente e atingir níveis sangüíneos iguais aos obtidos por injeções.
Pouco depois de injetada, a penicilina atinge concentrações adequadas nos tecidos orgânicos, e posteriormente é eliminada pelos rins. Difunde-se em quase todos os tecidos, salvo no cérebro, na córnea e no cristalino (globo ocular). Pode ser inativada por um fermento denominado penicilinase, produzido por certas bactérias (Entamoeba coli, Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus).
A penicilina pode produzir reações de hipersensibilidade, como urticária, edema angioneurótico, dores articulares, febres, eczemas, erupções cutâneas, quadro de choque e até morte. É eficaz nas infecções por bactérias gram-positivas (sobretudo estreptococos, pneumococos, estafilococos e bacilos diftéricos), cocos gram-negativos (treponemas, lactobacilos etc.). Os estafilococos desenvolvem freqüentemente resistência à penicilina, mesmo quando essa é aplicada em altas concentrações. As penicilinas semi-sintéticas mais recentes (meticilina, oxacilina e clorozacilina) resistem à ação da penicilinase dos estafilococos. São eficazes no combate ao estafilococo resistente aos demais antibióticos.
Estreptomicina - Em 1944, Selman Abraham Waksman descobriu a estreptomicina, extraindo-a de uma cultura de Streptomyces griseus. A diidroestreptomicina, derivado hidrogenado da estreptomicina, tem ação antimicrobiana idêntica.
Por ser pouco absorvida no tubo digestivo, a estreptomicina não é empregada por via oral para tratamento de doenças sistêmicas, mas é usada com bons resultados nas infecções intestinais, de vez que não se anula sob a ação do suco gástrico. Aplicada em injeções intramusculares, difunde-se rapidamente no sangue, nos líquidos ascítico e pleural, na urina, nos humores aquoso e vítreo do globo ocular, na bile e no líquido amniótico. É eliminada pelos rins e atua, em parte por interferência, no mecanismo de condensação do piruvato e oxaloacetato dos germes. A resistência à estreptomicina surge muito mais rapidamente do que a resistência à penicilina.
A estreptomicina tem efeito tóxico, especialmente sobre o aparelho vestibular (um dos órgãos do equilíbrio). A diidroestreptomicina é mais tóxica para o nervo acústico e pode causar surdez após a aplicação de alguns gramas. Atualmente, dentro e fora do Brasil, há forte tendência a abandonar a diidroestreptomicina nos preparados farmacêuticos.
O principal uso da estreptomicina é no tratamento da tuberculose. Em associação com antibióticos de largo espectro, é eficaz na brucelose e nas infecções urinárias por B. proteus e outros germes resistentes; age ainda beneficamente em infecções entéricas resistentes às sulfonamidas.
Tetraciclinas - Grupo antibiótico de largo espectro, que inclui a clortetraciclina, obtida de Streptomyces aureofaciens; a oxitetraciclina, extraída do Streptomyces rimosus; e a tetraciclina, derivada da naftacenocarboxamida. Foram descobertas independentemente, possuem atividades semelhantes e são rapidamente absorvidas no tubo digestivo, comportando-se como bacteriostáticos in vivo. Seu mecanismo de ação é ainda desconhecido. Não raro, provocam náusea, vômito, diarréia, estomatite, proctite e vaginite, embora isso seja menos comum com a tetraciclina.
As tetraciclinas atuam contra alguns vírus grandes (como os do linfogranuloma venéreo e da psitacose), rickéttsias, bactérias gram-negativas e gram-positivas. São eficazes, sobretudo, nas infecções resistentes à penicilina e à estreptomicina.
Cloranfenicol - Extraído em 1948 de Streptomyces venezuelae, o cloranfenicol pode ser obtido também por síntese. Atua eficazmente por via oral. É eliminado pela urina, conjugado ao ácido glicurônico. O principal inconveniente do cloranfenicol é que, às vezes, provoca anemia aplástica e agranulocitose (baixa de leucócitos granulosos no sangue) graves, ou mesmo fatais.
De atividade semelhante à das tetraciclinas, mostra-se porém mais poderoso contra infecções por germes gram-negativos, especialmente proteus e os causadores de febre tifóide e salmoneloses. Atua também sobre estafilococos e rickéttsias.
Neomicina - Contra bactérias gram-positivas e negativas a neomicina mostra-se eficaz. Por não ser absorvida no tubo digestivo, é usada para esterilizar a flora intestinal antes da cirurgia. Não deve ser injetada em pacientes com insuficiência renal porque é tóxica para os rins. Pode também causar surdez. Usa-se em pomadas nas infecções piogênicas.
Eritromicina - Além de apresentar espectro antimicrobiano semelhante ao da penicilina, a eritromicina age também sobre alguns vírus, rickéttsias e estafilococos, sobretudo os resistentes à penicilina.
Outros antibióticos - A polimixina-B, apesar de agir sobre germes gram-negativos, tem uso limitado, por seus efeitos tóxicos sobre o sistema nervoso e os rins. A bacitracina, tóxica para os rins e pouco assimilável pelo tubo digestivo, limita-se a aplicações locais. Atua sobre bactérias gram-positivas, meningococos, gonococos e H. influenzae.
A novobiocina é eficaz contra infecções por estafilococos e B. proteus resistentes a outros antibióticos. A carbomicina tem espectro antimicrobiano semelhante ao da eritromicina. A nistatina, inibidora de fungos, principalmente dos que aparecem no tubo digestivo por efeito dos antibióticos de largo espectro (tetraciclinas, sobretudo), é usada em aplicações locais contra certas micoses.
Muito semelhante à neomicina em estrutura e efeitos, a canamicina é útil no tratamento de infecções por estafilococos. A viomicina, embora seja eficaz contra o bacilo da tuberculose, é tóxica para os rins e ouvido.
O uso indiscriminado de antibióticos tem contribuído para o aparecimento de germes resistentes, cuja proliferação e virulência provocam situações graves, por vezes fatais. Sempre que possível, o médico procura fazer os testes de sensibilidade aos químio-antibióticos, a fim de selecionar as drogas mais eficazes para cada tipo de infecção. Os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão e a Europa continental são os maiores produtores.
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