Vice-reino da Nova Espanha
O Vice-reino da Nova Espanha formou-se ao longo de três séculos, enquanto se operava a profunda mestiçagem de sangues e culturas que deu origem ao México. A Nova Espanha constituiu uma das vigas mestras do império colonial espanhol e, com a prata que enviou para Madri, alimentou os alicerces do capitalismo moderno.Nova Espanha foi o primeiro vice-reino da América, criado por uma carta régia espanhola de 1535. Estendeu-se do istmo do Panamá aos atuais estados americanos da Califórnia, Texas e Novo México, além de incluir as possessões do Caribe e as Filipinas. Durante seus 286 anos, a Nova Espanha teve 61 vice-reis e ao se extinguir, com a independência em 1821, seu território era duas vezes maior que o do posterior México independente.
História - Após a conquista em 1521, Hernán Cortés governou o México pessoalmente e deu início à colonização. Abusos cometidos pelos conquistadores, porém, levaram o imperador Carlos V (I da Espanha) a instaurar em 1527 uma audiência como órgão de administração e, em 1535, o vice-reino. Os primeiros vice-reis, Antonio de Mendoza e Luis de Velasco, estabeleceram a base administrativa da colônia.
Em seu governo, Mendoza ampliou o território em direção ao norte, incentivou a cultura e fundou diversas cidades. As Leis Novas suavizaram o regime de submissão dos indígenas nas encomiendas (lotes de terras e índios entregues aos colonos espanhóis). Luis de Velasco continuou a política de melhoramentos sociais para os indígenas, fundou a Universidade do México e patrocinou a expedição de Miguel López de Legazpi, que em 1564 conquistou as Filipinas. A produção de prata aumentou e começaram os problemas com ataques de piratas estrangeiros aos portos e navios do império espanhol na América.
No século XVII, a expansão territorial foi mais lenta e o trabalho de assimilação dos indígenas coube a missionários franciscanos e jesuítas. Entre os vice-reis destacou-se Juan de Palafox y Mendoza, que fez construir hospitais, mosteiros e templos, como a catedral de Puebla, e redigiu o regulamento da Universidade do México. A Nova Espanha convertera-se no território mais próspero da América. Suas cidades e instituições competiam com as da metrópole.
A dinastia Bourbon da Espanha promoveu reformas na administração colonial. Funcionários e militares substituíram os nobres nos cargos públicos, e os vice-reis procuraram incentivar o desenvolvimento econômico e a organização militar. As missões chegaram ao Texas e à Califórnia. Dos vice-reis do século XVIII, Juan de Acuña construiu a Casa da Moeda, reformou as finanças e estabeleceu o comércio com as Filipinas, e Juan Antonio de Vizarrón combateu o banditismo e conteve uma rebelião indígena.
Economia - A mineração foi a principal atividade da colônia. Os metais preciosos ali extraídos somaram a metade do total que chegou à Europa nos séculos XVI e XVII e estimularam o processo de desenvolvimento do capitalismo europeu. O território colonizado se ampliou rapidamente no século XVI graças ao descobrimento de novas jazidas minerais.
A produção agrícola também foi fundamental para a economia da Nova Espanha e, além de alimentar a população local, produziu excedente suficiente para exportação. Além das espécies tradicionais, como milho e feijão, havia as culturas trazidas pelos europeus, como trigo e cana-de-açúcar, e a pecuária, que praticamente inexistia no período pré-colombiano. A maior parte dos indígenas desconhecia o arado e a tração animal e manteve os métodos tradicionais de cultivo nas terras destinadas à exploração coletiva.
Os espanhóis introduziram as práticas agrícolas europeias, com o que a cana-de-açúcar e espécies americanas como o cacau e a baunilha se tornaram produtos de exportação. Algumas manufaturas não coibidas pela metrópole, sobretudo as têxteis e a cerâmica, desenvolveram-se rapidamente. Artigos de luxo, com exceção da ourivesaria, eram importados ou contrabandeados da Europa. A partir de 1592 a capital contou com um escritório consular de comércio. Apesar do severo sistema de controle da metrópole, o contrabando cresceu muito. Na segunda metade do século XVIII, os produtos fabricados em série pela florescente indústria britânica, muito mais baratos do que os produzidos pelas antiquadas manufaturas locais e espanholas, invadiram a colônia.
Estrutura social - Bem cedo estabeleceu-se na colônia um rígido sistema de estratificação social, que se compunha de espanhóis (europeus ou criollos), índios, e castas de mestiços, mulatos e negros. No século XVII, a população era constituída de setenta por cento de índios, vinte por cento de mestiços, sete por cento de espanhóis e três por cento de negros, mulatos e zambos. Os descendentes dos conquistadores formaram uma aristocracia agrária fechada, cuja ideologia e modo de vida se identificavam com o feudalismo medieval europeu. Uma classe social numerosa e relativamente livre, de mestiços e índios, praticava a agricultura e sustentava a economia. Os negros, em pequeno número, trabalhavam como escravos nas plantações litorâneas.
Na segunda metade do século XVIII, cresceu a importância de uma classe social de comerciantes e industriais, integrada por criollos que se ressentiam dos privilégios dados aos espanhóis recém-chegados da metrópole, detentores dos cargos mais importantes. Coube a esse grupo levar para o vice-reino da Nova Espanha os ideais revolucionários e libertários que conduziram à independência do México.
Cultura - A vida cultural de origem europeia, promovida pelos vice-reis na Nova Espanha, cresceu incessantemente. Fundou-se a primeira imprensa do continente em 1536, e a Universidade do México foi criada em 1551. No século seguinte, o florescimento intelectual deu ao país três grandes nomes: a poetisa sóror Juana Inés de la Cruz, o dramaturgo Juan Ruiz de Alarcón e o escritor Carlos de Sigüenza y Góngora.
Nas últimas décadas do século XVIII, Lorenzo Boturini iniciou o trabalho de recuperação do passado anterior a Cortés, foi lançado o jornal Gaceta de México e criaram-se instituições culturais como a Academia de São Carlos, o Jardim Botânico e a Escola de Mineração. Na época em que a visitou o naturalista Alexander von Humboldt (1803), a Nova Espanha surgia como o território mais promissor da América, e a Cidade do México era não só a maior do continente como uma das mais ricas e cultas do mundo hispânico.
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