Populismo no Brasil e na América Latina

Fenômeno político que se manifesta com mais intensidade nos períodos de transição social e econômica, em sociedades divididas entre a tradição e a modernização, o populismo se baseia numa visão romântica de povo como estrato social homogêneo, dotado de valores exclusivamente positivos e qualificado para expressar a vontade do conjunto da sociedade.
No século XX, a palavra populismo adquiriu novo significado e passou a designar movimentos e governos da África, Ásia e América Latina. Considerado uma dimensão da cultura política em geral e não um tipo particular de sistema ideológico ou espécie de organização, o populismo não tem formulação doutrinária e teórica específica. Engloba teorias e doutrinas aparentemente conflitantes que partilham o mesmo núcleo essencial: apenas o povo tem a faculdade de legitimar regimes e políticas. Num uso mais amplo, refere-se a certos elementos em organizações, movimentos e ideologias de toda espécie nos quais se dá destaque à noção de vontade do povo e ao contato popular direto com os líderes políticos.
As diversas modalidades de populismo apresentam como traços comuns o caráter de movimento não-institucionalizado, que prescinde de princípios ideológicos rígidos e de normas de organização, e por isso raramente constitui partido político; indefinição de propósitos, que lhe torna estranha, ou pelo menos secundária, a noção de programa político; presença de um líder carismático; negação do conceito de classe e portanto da luta de classes; e forte conotação nacionalista. Com o militarismo e o fascismo, o populismo partilha a mesma falta de definição ideológica, a negação da sociedade de classes e a ausência de organização de tipo partidário. Assim, no interior de um mesmo movimento, podem coexistir tendências opostas e todos os matizes de esquerdismo e direitismo.
Populismo na América Latina
O populismo latino-americano é um fenômeno urbano e típico das sociedades que começaram a crescer industrialmente no século XX. Instrumento de organização que visa a harmonizar grupos de interesses divergentes, aplica-se a qualquer movimento de massa que interesse difusamente à "maioria do povo". Nele ganha especial relevância o líder carismático proveniente dos estratos mais altos da classe média, como Perón e Vargas. Assimila do socialismo apenas seus elementos distributivos: melhoras salariais, implantação ou modernização da legislação trabalhista e implantação de sistemas previdenciários e de bem-estar social, mas não pretende implantar a propriedade social dos meios de produção, embora em alguns casos promova a estatização de setores industriais.
Entre os movimentos populistas da América Latina destacam-se os de Getúlio Vargas no Brasil, Juan Domingo Perón na Argentina, Carlos Ibañez del Campo no Chile, Gustavo Rojas Pinilla na Colômbia, Victor Haya de la Torre, Manuel Arturo Odría e Alan García no Peru e José María Velasco Ibarra no Equador.
No Brasil, populismo é um conceito político que define e explica uma etapa da história do país. Sua prática envolve uma técnica de ação política pela qual setores dominantes, ligados ao esforço de industrialização, pretenderam manipular a participação de amplas camadas populares urbanas no cenário político. O populismo surgiu com a revolução de 1930 e a ascensão de Vargas ao poder e estruturou-se politicamente com a adoção de medidas concretas, tornadas possíveis pelo acesso do movimento à máquina do estado. Serviu a uma estratégia de crescimento econômico cujo objetivo era a criação de um capitalismo nacional e autônomo, com um modelo de industrialização conhecido como de "substituição de importações". Apesar de ter possibilitado o progresso pela industrialização e incorporado grandes massas ao processo político, o populismo se debateu em crise permanente. Em 1950, a eleição democrática de Vargas para a presidência marcou a ampliação do populismo de modelo desenvolvimentista, com a inclusão do estado nas atividades produtivas em diversos setores, como o siderúrgico e o petroquímico.
Cientistas políticos consideraram que a deposição de João Goulart em 1964 marcou o fim do populismo no país. No entanto, como no conjunto da América Latina, algumas das condições que propiciaram sua ocorrência continuam presentes no panorama político, social e econômico brasileiro e permitem o ressurgimento de fenômenos populistas, embora com um conteúdo e dimensão diferentes dos que ocorreram no passado.
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