História do Carnaval no Brasil e no Mundo

História do Carnaval no Brasil e no Mundo

#História do Carnaval no Brasil e no Mundo

Carnaval é o período de festas e divertimento compreendido entre o dia de Reis e a Quaresma, especialmente os três dias que precedem a quarta-feira de Cinzas, em fevereiro ou março. Entre as festas carnavalescas realizadas fora do calendário oficial podem ser citadas a mi-carême, na França, e a  "serração da velha", no Brasil. Segundo Luís da Câmara Cascudo, esta última consistia numa festa popular em que "um grupo de foliões serrava uma tábua, aos gritos estridentes e prantos intermináveis, fingindo serrar uma velha que, representada ou não por algum dos vadios da banda, lamentava-se num berreiro ensurdecedor". Essa cerimônia caricatural esteve muito em voga no século XVIII, em Portugal, e tinha lugar principalmente durante a Quaresma. Tal modalidade de divertimento surgiu no Brasil no início do século XVIII.

A dança, o canto, a máscara e a liberdade de comunicação entre as pessoas, refreada durante o ano, caracterizam o carnaval, festa popular que valoriza a força erótica, o riso e o inusitado.

Não se sabe ao certo qual a origem da palavra carnaval. Na opinião de Antenor Nascentes, se aplicava originariamente à terça-feira gorda, a partir de quando a Igreja Católica proibia o consumo de carne. Outros etimólogos propõem como origem o baixo latim carnelevamen, modificado mais tarde em carne, vale! que significa "adeus, carne!" Carnelevamen pode ser interpretado como carnis levamen, "prazer da carne", antes das tristezas e continências que marcam o período da Quaresma.

Origem e antiguidade clássica

A origem do carnaval é também objeto de controvérsia, mas tem sido frequentemente atribuída à sobrevivência e evolução do culto de Ísis, das bacanais, lupercais e saturnais romanas, das festas em homenagem a Dioniso, na Grécia, e até mesmo das festas dos inocentes e dos doidos, na Idade Média. Por sucessivos processos de deformação e abrandamento, essas festas teriam dado origem aos carnavais dos tempos modernos, como os que se realizam em Nice, Paris, Roma, Veneza, Nápoles, Florença, Munique e Colônia. Independentemente de sua origem, é certo que o carnaval já existia na antiguidade clássica e até mesmo na pré-clássica, com danças ruidosas, máscaras e a licenciosidade que se conservam até a época contemporânea.

Idade Média

A Igreja Católica, se não adotou o carnaval, teve para com ele alguma benevolência. Tertuliano, são Cipriano, são Clemente de Alexandria e o papa Inocêncio II foram grandes inimigos do carnaval mas, no século XV, o papa Paulo II foi muito mais tolerante e chegou a autorizar o uso da Via Lata, diante de seu palácio, como palco do carnaval romano, com corridas de cavalos, carros alegóricos, batalhas de confetes, corrida de corcundas, lançamento de ovos e outros folguedos populares.

Essas formas de bufoneria medieval entraram em declínio e o carnaval tornou-se menos grosseiro e violento. O tétrico e o macabro tomaram o lugar do deboche. Ficaram célebres as famosas danças macabras da Idade Média, durante as quais homens e mulheres desfilavam diante da Morte, que, impassível, lhes ouvia as queixas e, "depois de chasquear um verso com os suplicantes, lhes descarregava a foice".

Renascimento e tempos modernos. Introduzido pelo papa Paulo II, o baile de máscaras começou a fazer sucesso nos séculos XV e XVI, na Itália e também na França, onde sobreviveu durante a revolução francesa e depois dela, com um período de renascimento entre 1830 e 1850. Ainda no século XIX, em Londres, ficou famoso o baile promovido pelo Instituto Real de Pintores e Aquarelistas em 1884, quando os artistas ingleses se fantasiaram com máscaras dos mestres do passado ou de príncipes e monarcas amigos.

O carnaval transformou-se, assim, numa celebração ordeira de caráter artístico, com bailes e desfiles alegóricos, forma que iria aos poucos desaparecer na Europa, entre o final do século XIX e início do século XX. Essas características, no entanto, sobreviveram em carnavais de algumas cidades europeias, entre as quais Munique e Nice.

Carnaval no Brasil

O entrudo português constituiu, no Brasil colonial e monárquico, a forma mais comum de brincar o carnaval. Consistia num folguedo violento: eram atiradas sobre as pessoas água, farinha, cal e outras substâncias que molhavam e sujavam o transeunte. Proibido no Rio de Janeiro pelo prefeito Pereira Passos, em 1904, e alvo de protestos na imprensa, o entrudo civilizou-se progressivamente até o aparecimento de outros instrumentos de brincadeiras: o confete, a serpentina e o lança-perfume.

Carnaval carioca

O zé-pereira (tocador de bombo) marcou época nos antigos carnavais do Rio de Janeiro. O sapateiro português José Nogueira de Azevedo teria sido o introdutor, em 1846, do hábito de animar a folia carnavalesca com zabumbas e tambores, percutidos em passeata pelas ruas. Meio século mais tarde, o ator Francisco Correia Vasques encenou uma paródia de Les Pompiers de Nanterre (Os bombeiros de Nanterre), na qual cantou a quadrinha que celebrizou o já consagrado personagem carnavalesco: "E viva o zé-pereira / Pois que a ninguém faz mal / Viva a bebedeira / Nos dias de carnaval."

Bailes

O primeiro baile carnavalesco carioca realizou-se no Hotel de Itália, na atual praça Tiradentes, por iniciativa dos proprietários, animados pelas notícias do sucesso dos bailes de máscaras europeus. Em 1846 a atriz Clara Dalmastro organizou um baile de máscaras no teatro São Januário, dando início à moda dos bailes em casas de espetáculos, generalizada por volta de 1870. No final do século, cerca de cem bailes eram oferecidos aos carnavalescos da cidade, em teatros e clubes. Celebrizaram-se os bailes do Teatro Municipal, realizados de 1932 a 1975, e os dos hotéis de luxo como o Glória, o Copacabana Palace e o Quitandinha, em Petrópolis.

Máscaras e fantasias

Até a década de 1930, era costume brincar o carnaval com fantasias ou máscaras, estas introduzidas em 1834 por influência francesa. As ricas máscaras de veludo ou cetim, assim como as fantasias de marinheiro, pierrô, colombina e arlequim usadas nos bailes, foram progressivamente abandonadas e substituídas por trajes sumários e confortáveis. Sobreviveram nas ruas os foliões vestidos de mulher, autênticos travestis ou brincalhões grotescamente disfarçados, hábito já registrado em carnavais de meados do século XIX. Outros personagens são encarnados especialmente por crianças, como os super-heróis da televisão, os palhaços e o bate-bola. Em meados do século XX despertavam admiração os desfiles de riquíssimas fantasias, restritos aos salões, em que se atribuíam prêmios nas categorias luxo e originalidade.

Corsos

A moda do corso, lançada em fins da década de 1900, mobilizou multidões durante aproximadamente trinta anos. Consistia numa passeata carnavalesca de automóveis enfeitados que conduziam foliões, os quais brincavam com os demais participantes e com os pedestres. Confete, serpentina e lança-perfume eram usados em profusão, enquanto se cantavam os sucessos musicais do carnaval do ano ou de anos anteriores. O corso se iniciava às quatro horas da tarde do domingo de carnaval e se prolongava pela madrugada. Essa modalidade carnavalesca desapareceu com o advento dos carros fechados, que substituíram os conversíveis usados nos corsos.

Cordões, blocos e ranchos

Os cordões começaram a participar dos festejos carnavalescos da cidade por volta de 1880, para desaparecer nos primeiros anos do século XX. Entre esses primeiros grupos de mascarados, em que saíam palhaços, reis, diabos e baianas, contam-se o Flor de São Lourenço, o Cordão dos Invisíveis, o Estrela da Aurora e a Sociedade Carnavalesca Triunfo dos Cucumbis. Estruturavam-se segundo uma mesma norma: um conjunto de foliões fantasiados, conduzidos por um mestre munido do apito de comando, dançava e cantava ao som de instrumentos de percussão. Era costume expor os estandartes dos cordões nas sedes dos jornais, antes do carnaval.

Os blocos, grupos de foliões fantasiados que se divertem em passeatas carnavalescas pelas ruas, dançando e cantando ao som de baterias, são outra tradição do carnaval carioca e de outras cidades do Brasil. Os ranchos carnavalescos, originados do rancho de Reis nordestino, começaram a aparecer no carnaval carioca no início do século XX como cortejo mais organizado e evoluído que o cordão e o bloco. Desfrutaram de grande popularidade junto aos apreciadores do carnaval de rua o Flor do Abacate, Ameno Resedá, Mamãe Lá Vou Eu e Rosa de Ouro.

Sociedades carnavalescas

As grandes sociedades que apareceram na segunda metade do século XIX não se limitavam aos desfiles carnavalescos. Seu prestígio se apoiava também em atividades sociais e políticas. Os integrantes das sociedades eram cidadãos participantes da vida nacional, abolicionistas e republicanos, e os grandes clubes funcionavam também como sociedades literárias e musicais. Nos chamados carros de crítica, tomavam posição contra abusos e erros das autoridades ou a propósito de questões em que a coletividade estivesse empenhada.

O Congresso das Sumidades Carnavalescas foi responsável pelo primeiro desfile do gênero, em 1855. Surgiu logo depois a União Veneziana, de curta duração, e duas dissidências do Congresso das Sumidades: a Euterpe Comercial e os Zuavos Carnavalescos. Os Tenentes do Diabo desfilaram em préstito pela primeira vez em 1867 e fizeram história como uma das mais populares sociedades carnavalescas. Seus aficionados eram chamados baetas. Outras sociedades muito populares foram os Democráticos, cujos admiradores se chamavam carapicus, e os Fenianos, cujo nome é uma referência aos revolucionários irlandeses que lutavam contra os britânicos, aplaudidos pelos "gatos". A Embaixada do Sossego, o Clube dos Embaixadores, os Pierrôs da Caverna, o Clube dos Cariocas e os Turunas de Monte Alegre também saíam em préstitos, formados por batedores, carro abre-alas, uma comissão de frente montada, um carro-chefe, carros alegóricos e de crítica e banda de clarins.

Escolas de samba

A Deixa Falar, do bairro do Estácio, que reunia os sambistas Nilton Bastos, Ismael Silva e Alcebíades Barcelos (Bide), foi a primeira escola de samba do Rio de Janeiro, fundada em 1928. A praça Onze foi eleita pelos sambistas para as concentrações nos domingos e terças-feiras de carnaval. Logo se multiplicaram as agremiações, algumas das quais desapareceram com pouco tempo de existência e outras prosperaram, como a Estação Primeira, do morro da Mangueira; a Vai Como Pode, futura Portela, do bairro de Madureira, e outras.

As escolas de samba da atualidade são sociedades civis legalmente registradas, elegem dirigentes e dispõem de órgãos representativos. As mais importantes têm sede própria, denominada quadra, onde se realizam bailes e ensaios durante os meses que precedem o carnaval. Algumas desenvolvem atividades assistenciais, principalmente com as crianças da comunidade.

Uma escola de samba, ao desfilar, dispõe em certa ordem os elementos que a constituem. O carro abre-alas inicia o desfile, seguido da comissão de frente, que representa a direção da escola. A porta-bandeira leva o estandarte da escola e executa, com o mestre-sala, uma coreografia especial. A dupla representa os anfitriões da escola. Os mais hábeis sambistas da escola, os passistas, desfilam à frente das alas. A bateria das grandes escolas se compõe de centenas de ritmistas que tocam surdos, taróis, pandeiros, tamborins, cuícas e outros instrumentos de percussão. Os grandes grupos de componentes fantasiados denominam-se alas e são intercalados pelas alegorias, montadas sobre carretas.

Música carnavalesca

A partir da marcha Abre alas, composta por Chiquinha Gonzaga em 1899, vários outros gêneros se popularizaram como música de carnaval: samba, marcha-rancho, batucada e samba-enredo permaneceram como os ritmos prediletos dos foliões do Rio de Janeiro. Até o final da década de 1960, a música de carnaval foi um fenômeno cultural e musical específico. A Rádio Nacional divulgava grande número de composições que, a cada ano, disputavam a preferência do público, cantadas nos bailes e nas ruas. Algumas dessas canções tornaram-se clássicas das festividades do período e passaram a ser executadas em todos os carnavais. Entre elas se contam Cidade maravilhosa (1935), Mamãe eu quero (1937) e Jardineira (1939), assim como outras mais recentes.

A ascensão da televisão e o declínio do rádio contribuíram para minimizar a importância desse fenômeno. A afirmação da linguagem televisiva, que privilegia o aspecto visual do carnaval, acarretou uma divulgação maior das escolas de samba, cujo desfile, transmitido para todo o país, passou a ser o ponto alto do carnaval carioca. Os sambas-enredo das escolas, bem como o som de suas baterias, tornou-se o ritmo carnavalesco dominante.

Carnaval baiano

Salvador apresenta um carnaval em que se misturam as mais autênticas tradições negras, como o cortejo dos afoxés, entre os quais se destacam os Filhos de Ghandi, com novidades introduzidas periodicamente nos ritmos e no instrumental, logo assimiladas pela multidão de foliões. Assim, o frevo baiano se executa ao lado de ritmos como o samba-reggae e a timbalada. O trio elétrico, palco ambulante montado sobre um caminhão e munido de caixas acústicas e alto-falantes, transmite a música executada por um conjunto e acompanhada pela multidão. Criado pelo folião Antônio Adolfo do Nascimento em 1950, o trio elétrico transformou-se no principal elemento do carnaval baiano.

Olinda e Recife

No carnaval pernambucano predominam os blocos de frevo, música de ritmo frenético e contagiante, executada por batida sincopada e instrumentos de sopro. Os dançarinos de frevo podem usar guarda-chuvas para facilitar o equilíbrio. O ponto alto do carnaval do Recife é o cortejo do Galo da Madrugada, bloco que sai às cinco horas da manhã do sábado do bairro São José e percorre a cidade, acompanhado por centenas de milhares de pessoas.

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