Os Crânios Mais Antigos da América

Os Crânios Mais Antigos da América

Os Crânios Mais Antigos da América
A busca dos habitantes mais antigos das Américas já não depende só de esqueletos: passou a ser feita também com a ajuda de DNA extraído dos fósseis. Os primeiros fragmentos de genes foram tirados de ossadas indígenas enterradas há milhares de anos, que agora estão preservadas no Museu do Homem do Sambaqui, em Santa Catarina. Elas ainda não puderam ser datadas com precisão e a análise dos genes está apenas no início. Mas, dentro de mais algum tempo, podem revelar características ainda desconhecidas dos povos pré-históricos que habitaram o Brasil. Os genes antigos foram obtidos em 2003 pela pesquisadora Daniela Gaeta Arruda, da Universidade de São Paulo.

Até agora, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas tem cerca de 15 mil anos. O cálculo da idade de alguns pedaços de crânio e de três dentes encontrados no Piauí é feito em 2000 pela arqueóloga Niède Guidon, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo. Eles são 3,5 mil anos mais velhos do que Luzia - nome pelo qual ficou conhecido um crânio de mulher encontrado em Lagoa Santa (MG) - até então considerado o fóssil mais antigo. O recordista anterior a Luzia era o crânio de um homem achado na cidade de Kennewick, no nordeste dos Estados Unidos.

Em 2001, pesquisadores franceses e paulistas liderados pelo arqueólogo Denis Vialou, diretor do Museu Nacional de História Natural de Paris, descobrem em Mato Grosso, a 70 quilômetros de Cuiabá, o sítio arqueológico mais antigo do país, com vestígios de uma civilização que viveu há 27 mil anos. Embora não tenha fósseis humanos, o sítio só perde para os do Piauí em antiguidade. Ele contém figuras humanas e de animais, indícios de fogueiras, inscrições em pedra e, até agora, revelou 800 fragmentos de ossos, entre os quais vértebras e dentes de uma preguiça de 5 metros de comprimento, que extinguiu-se no Brasil há cerca de 10 mil anos.

Luzia
Luzia – Os resultados da datação de Luzia foram divulgados em 1999, revelando que se trata do crânio mais antigo da América. Ela apresenta traços semelhantes aos dos africanos, o que parece indicar que seus ancestrais tenham se originado na África e realizado uma longa migração, indo para a Ásia em uma primeira etapa. Num segundo momento, eles teriam cruzado o continente asiático, até alcançar o americano, passando pelo estreito de Behring. Existe também a suposição, aceita por um número menor de paleoantropólogos, de que esse trajeto tenha sido realizado por barco, atravessando o oceano Pacífico a partir da China. A seguir, os grupos humanos dirigiram-se do norte da América para o sul, numa viagem que pode ter durado milênios, até atingir a América do Sul, onde teriam se extinguido e sido substituídos pelas populações atuais, com origem oriental.

Embora parciais, esses esqueletos são de grande importância, pois confirmam que a chegada do homem às Américas aconteceu há mais de 12 mil anos e, possivelmente, em mais de uma leva migratória. Essa data vinha sendo considerada um limite intransponível desde o início do século, a despeito de muitas evidências sugerirem a presença de humanos no continente antes disso. Uma das descobertas mais significativas são os utensílios pré-históricos encontrados na região de Monte Verde, no Chile, em 1998, alguns com até 12,5 mil anos. No sítio não foram encontrados ossos, mas havia pontas de flecha, restos de fogões de pedra e outros indícios de uma aldeia primitiva no local.

Esse ano, uma nova descoberta veio demonstrar que Luzia não era a única a destoar do padrão atual dos índios nas Américas. A mulher de Peñon 3, com 10 700 anos e a segunda mais antiga depois de Luzia, também apresentava morfologia cerebral distinta dos índios atuais, reforçando a teoria de que houve mais do que uma leva migratória para as Américas. O crânio foi descoberto no México há um século, mas sua datação só foi divulgada agora. Os pesquisadores ainda não chegaram a um consenso sobre a origem do crânio, se seria africana ou asiática.

Carbono 14 – O método de datação de fósseis pelo carbono 14, considerado bastante confiável, baseia-se no fato de que o corpo humano contém dois tipos de átomo de carbono: um mais pesado, identificado pelo número 14, e outro mais leve, chamado de 12. Enquanto o organismo está vivo e se alimentando, o estoque dos dois tipos de carbono é continuamente reposto, de modo que a relação entre um e outro se mantém constante. Mas o 14, que totaliza menos de 1% do total de carbono presente no organismo vivo, é radioativo e se desintegra, transformando-se lentamente em 12. Depois da morte, o corpo pára de repor os átomos, e a proporção do carbono 14 vai diminuindo constantemente. Assim, basta medir essa proporção para saber há quantos anos ocorreu a morte de determinado tecido orgânico. Esse tipo de análise funciona também em restos de madeira, como carvão. Só é preciso levar em conta que, em ossos muito antigos, a quantidade do carbono 14 se torna tão pequena que o método perde precisão e deixa de ser útil. Considera-se que ele dá bons resultados apenas em medidas de tempo menores que 30 mil anos.

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