Guerra dos Sete Anos na Europa (Inglaterra e França, 1756-1763)
Conflito entre Inglaterra e França, de 1756 a 1763, que se alastra do território norte-americano ao continente europeu. Sua origem está na rivalidade econômica e colonial franco-inglesa nos EUA e na Índia e na ocupação dos estados franceses da Terranova e Nova Escócia, no norte da América, por colonos britânicos instalados na costa nordeste. Em reação, tropas da França aliam-se a tribos indígenas e atacam as 13 colônias inglesas da região. Diante da investida francesa, estas são obrigadas a unir-se à Coroa britânica, deixando de lado os atritos comerciais com a metrópole. A Inglaterra é a vencedora do conflito, chamado pelos norte-americanos de "a guerra contra os franceses e os índios".
A guerra dos sete anos foi o maior conflito armado ocorrido na Europa durante a segunda metade do século XVIII. Vários fatores desencadearam a guerra: a preocupação das potências europeias com o crescente prestígio e poderio de Frederico II o Grande, imperador da Prússia; as disputas entre a Áustria e a Prússia pela posse da Silésia, província oriental alemã, que passara ao domínio prussiano em 1742 durante a guerra de sucessão austríaca; e a disputa entre a Grã-Bretanha e a França pelo controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte. As hostilidades tiveram início em 1756, quando Frederico II o Grande, que nesse mesmo ano estabelecera uma aliança com a Grã-Bretanha para defender Hanover de um possível ataque francês, invadiu a Saxônia e ocupou a capital, Dresden. Adiantava-se, assim, ao iminente ataque preparado contra a Prússia pela coalizão formada pela Áustria, Rússia, Suécia, Saxônia e França.
Na Europa, a guerra propaga-se em razão do êxito inicial francês sobre as colônias norte-americanas. A Inglaterra junta-se à Prússia e bloqueia os portos franceses. Os ingleses apoderam-se de Quebec e de Montreal, conquistando até a região dos Grandes Lagos. Dominam ainda os territórios franceses nas Antilhas, na África e na Índia. Em consequência, a Inglaterra submete grande parte do Império colonial francês, especialmente as terras a oeste das colônias norte-americanas. A França cede à Inglaterra o Canadá, o Cabo Bretão, o Senegal e a Gâmbia e, à Espanha – que entra na guerra em 1761 –, a Louisiana. A Espanha, por sua vez, cede a Flórida aos ingleses.
Apesar de triunfante, a Inglaterra está em péssima situação financeira. Em Londres, o Parlamento decide penalizar os colonos com parte dos custos da guerra. Alega que foi insuficiente o fornecimento de homens e de equipamentos para garantir a vitória contra os franceses. Junto com a taxação, tenciona-se ampliar os direitos da Coroa na América e forçar um regime de pacto, restringindo as transações comerciais das colônias. Os protestos surgem e a revolta aumenta com a proibição inglesa de ocupação das terras conquistadas dos franceses pelos norte-americanos, forçando-os a viver apenas nas proximidades do litoral, região de fácil controle. A Guerra dos Sete Anos acirra, portanto, as divergências anglo-americanas, preparando o terreno para a luta pela independência dos Estados Unidos. Alguns líderes do movimento de autonomia norte-americana surgem exatamente nessa época, caso do presidente George Washington.
Ao fim da guerra dos sete anos, cujas consequências se fizeram sentir não apenas na Europa mas em todo o mundo, a Prússia e a Grã-Bretanha afirmaram sua liderança na vida política e econômica do século XVIII.
Durante o ano de 1756, as tropas prussianas conquistaram uma série de vitórias que culminaram com a batalha de Praga, em 6 de maio de 1757, na qual Frederico derrotou os austríacos. Um mês depois, entretanto, o imperador foi derrotado na batalha de Kolin e forçado a abandonar a Boêmia. A Prússia enfrentou a partir de então uma guerra em diversas frentes: a Suécia atacou a Pomerânia; as tropas russas invadiram a região oriental do território prussiano, obtendo uma importante vitória; a França penetrou na Prússia ocidental e os austríacos marcharam sobre a Silésia. Apesar da inferioridade de seu exército ante as tropas inimigas, Frederico obteve ainda duas grandes vitórias em 1757: em 5 de novembro infligiu uma esmagadora derrota a um exército franco-germânico em Rossbach e, em 5 de dezembro, esmagou os austríacos em Leuthen, na Silésia.
No ano seguinte, o imperador repeliu as tropas russas, que ameaçavam Berlim, e fez com que recuassem para Landsberg e Königsberg. Na batalha de Hochkirch, no entanto, o inesperado ataque dos austríacos obrigou o imperador a recuar até Dresden. Em agosto de 1759, Frederico experimentou terrível derrota ante as forças austro-russas. Em situação precária, o imperador recuperou sua capacidade ofensiva graças a um novo tratado com a Grã-Bretanha, que lhe forneceu a ajuda financeira necessária ao prosseguimento da guerra. Em 1760 as tropas prussianas iniciaram seu avanço em direção à Silésia, onde venceram os russos e os austríacos. As reservas militares do imperador, embora prodigiosas, começavam a mostrar sinais de esgotamento. Nesse mesmo ano seria travado o último grande combate de Frederico: a batalha de Torgau, em que prussianos e austríacos sofreram pesadas baixas.
Ocorreu então o que é chamado pelos historiadores austríacos de o "milagre da Casa de Brandemburgo": com a morte da czarina Elizabeth, em 1762, subiu ao trono russo seu sobrinho, Pedro III, grande admirador de Frederico. Rompeu-se assim a coalizão antiprussiana. O novo czar não apenas firmou a paz com Frederico II, como também atuou como mediador entre prussianos e suecos. Pôs seu exército à disposição do imperador e se juntou aos prussianos para expulsar os austríacos da Silésia. Pedro III foi assassinado meses depois de subir ao trono, mas sua viúva e sucessora, Catarina II a Grande, manteve a paz com a Prússia.
Sem o apoio do Exército russo, os austríacos foram derrotados em Burkersdorf e Freiberg. Ainda em 1762, o Tratado de São Petersburgo devolveu a Pomerânia à Prússia. Finalmente, em 15 de fevereiro de 1763, foi firmada a paz definitiva em Hubertusburgo. A Áustria renunciou à Silésia, enquanto a Polônia era dividida pela primeira vez, ocupada pela Prússia, Rússia e Áustria.
Operações nas colônias
Paralelamente aos conflitos nos campos de batalha da região central da Europa, os combates travados entre a Grã-Bretanha e a França pela posse das colônias da América do Norte e das Índias estenderam-se às Índias Ocidentais, oeste da África, Mediterrâneo, Canadá e Caribe. A ocupação da ilha de Minorca, então possessão inglesa, pelos franceses, em 1756, provocou o bloqueio inglês às costas da França em Toulon e Brest, o que deixou indefeso o Canadá francês diante dos ataques lançados pelos ingleses às colônias ao sul do rio São Lourenço.
Com a ocupação de Québec, em 1759, e Montreal, em 1760, todas as possessões francesas no Canadá passaram às mãos dos ingleses, que conquistaram ainda alguns portos do Mediterrâneo e levaram os franceses à rendição nas Índias, em 1761. Nesse mesmo ano, a França assinou com a Espanha o chamado "pacto de família", pelo qual os ingleses perderam acesso aos portos de Portugal, o que provocou a invasão de Cuba pela Grã-Bretanha e a ocupação de Manila, nas Índias Ocidentais.
O Tratado de Paris, firmado em 1763, regulou finalmente as disputas marítimas e coloniais. A Grã-Bretanha obteve todo o Canadá, parte da Louisiana, Flórida, as ilhas das Antilhas (São Vicente, Tobago, Granada e Granadinas), São Luís e os portos do Senegal, na África, além do reconhecimento de todas as suas conquistas nas Índias Ocidentais.
No Brasil houve repercussão dessa luta. Portugal não aderiu ao "pacto de família", o que motivou o ataque dos espanhóis do rio da Prata ao sul do Brasil. O Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1777, encerrou o conflito: a Espanha tomou posse da Colônia do Sacramento e de grande parte do atual território do Rio Grande do Sul, enquanto Portugal recuperava a ilha de Santa Catarina.
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