As definições enunciadas pelo general e teórico militar prussiano Carl
von Clausewitz são clássicas e universalmente aceitas: (1) guerra é um
ato de força para obrigar o lado contrário ao cumprimento de nossa
própria vontade; e (2) guerra é a continuação da política por outros
meios. No direito internacional, considera-se guerra a disputa entre
estados que recorrem à luta armada, para tentar fazer prevalecer um
ponto de vista político, em hostilidades de considerável duração e
magnitude, ainda que reguladas por certos preceitos legais. Esses
conceitos deixam à margem as formas revolucionárias e não declaradas de
guerra.
A guerra é um fenômeno que acompanha a história das comunidades humanas, desde aquelas mais primitivas até as do mundo de hoje. O poder devastador das armas fabricadas pelas modernas sociedades industriais, no entanto, pela primeira vez tornou o homem capaz de exterminar não só o inimigo como toda a humanidade.
A extensão dos conflitos bélicos a todos os terrenos da atividade humana abalou as antigas ideias sobre a questão. Guerra passou a ser o fenômeno que exprime a condição, declarada ou não, de hostilidade entre forças ideológica ou fisicamente antagônicas, que compreende ações de caráter político, econômico, social e militar de relativa intensidade e violência.
Inúmeras convenções internacionais têm procurado proscrever a guerra como recurso admissível nas contendas entre estados, embora a lei internacional admita o surgimento do "estado de guerra", sob certas condições. A carta da Organização das Nações Unidas (ONU) estabelece que "todos os membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais". Apesar dessas fórmulas e documentos, a possibilidade de guerra continua sendo admitida na própria carta da ONU, que reconhece não estarem as nações livres da agressão violenta.
Guerra clássica e não clássica - A natureza dos meios, a extensão dos conflitos e outros condicionamentos determinam as duas formas gerais de guerra admitidas na atualidade: a clássica e a não clássica. Guerra clássica é um conflito aberto e declarado entre estados, em geral reconhecido por organismos internacionais. Conforme a amplitude de seus efeitos e as restrições político-militares admitidas, pode ser total ou limitada. Guerra não clássica é uma forma de guerra não declarada, de ação indireta e sub-reptícia. Assume os aspectos mais variados, inclusive o conflito armado no interior do país entre setores da população. Como tipos de guerra não clássica citam-se a guerra revolucionária e a guerra insurrecional. Ambas utilizem processos revolucionários e subversivos, que variam da ação psicológica às ações violentas, como guerrilhas e terrorismo.
A utilização de determinados procedimentos bélicos qualifica mais especificamente a guerra clássica. Assim, chama-se global ou mundial o conflito que se dá num teatro de operações de dimensões continentais. Guerra terrestre, guerra marítima e guerra aérea são expressões que designam os conflitos de acordo com o meio físico em que ocorrem. A guerra local se desenrola em área restrita. De acordo com o emprego de diferentes recursos bélicos, a guerra pode ser química, quando emprega agentes tóxicos, incendiários ou fumígenos; biológica, quando emprega seres vivos, como bactérias patogênicas para disseminar epidemias; psicológica, quando aplica recursos como a propaganda e a contrapropaganda, visando sobretudo a minar o moral do adversário; e de outros tipos.
As convenções internacionais procuram estabelecer princípios éticos que devem ser respeitados pelos contendores para que se caracterize o "estado de guerra": a prévia declaração de guerra; a obediência aos dispositivos de proteção dos feridos e prisioneiros de guerra; a preservação da população civil não empenhada; a proibição de armas de destruição em massa e de outras ações perversas. O Brasil é subscritor de vários tratados inspirados na busca da solução pacífica dos conflitos internacionais, tanto de caráter continental como mundial. Tais são, por exemplo, as convenções de Genebra sobre a guerra e o tratado interamericano de soluções pacíficas conhecido como Pacto de Bogotá.
Guerra nas sociedades primitivas - Nas sociedades ditas primitivas, assim chamadas pelo caráter ágrafo da transmissão de sua herança cultural, a guerra não se distingue estruturalmente do que se observa nas sociedades complexas, ocorra ela entre diminutos grupos nômades de caçadores e coletores ou entre grandes impérios, como as antigas nações africanas e a civilização incaica, da América do Sul.
O antropólogo britânico Max Gluckman, ao estudar as culturas africanas, chamou a atenção para o efeito pacificador da classificação dos indivíduos em grupos territoriais e grupos de parentesco. Tal divisão impede o surgimento de choques entre grupos de vizinhança e grupos de parentes, ajudando na busca pacífica de solução para os conflitos potenciais.
Alguns cientistas sociais defendem o ponto de vista segundo o qual o conflito aberto funciona como regulador de variáveis psicológicas, demográficas, do exercício da autoridade, das relações com outros grupos e da distribuição de bens e recursos. Sobre as variáveis psicológicas, Lewis Coser diz que a guerra pode representar uma alternativa funcional de rivalidades ritualizadas pelo grupo, operando como agente catalisador de agressividades, ao descarregar tensões internas. Autores como Andrew Vayda, embora sem afastar a possibilidade de que a guerra possa desempenhar funções psicológicas, não admitem como fundamental esse papel, mas destacam os aspectos sociopolíticos do conflito.
Em certas sociedades, alguns atos de guerra que implicam reduzida perda de vidas podem exercer efeito positivo sobre as intenções belicosas do inimigo: um ritual guerreiro apavorante ou a exibição de uma ou duas cabeças de indivíduos mortos são capazes de afastar ou deter temporariamente o adversário. Esse ritualismo de sociedades primitivas é comparável a aspectos cerimoniais das sociedades modernas, como a exibição ostensiva de grande poderio militar, em desfiles das forças armadas. Algumas culturas exibem a premeditada intenção de exterminar o maior número possível de inimigos. Acredita-se que geralmente tal atitude está ligada a pressões demográficas: à diminuição dos contingentes populacionais em decorrência do confronto soma-se a conquista territorial, aumentando o habitat do vencedor.
Max Gluckman, em seus estudos com grupos africanos, destaca a função das guerras civis como elemento regulador de abusos do poder político, encarando-as como "defesas do reino contra o rei". Marshall Sahlins encontrou esse tipo de ocorrência em sociedades polinésias, contra chefes que se apropriavam de bens, recursos e trabalho da comunidade.
A guerra primitiva entre sociedades politicamente independentes em muitos casos diferencia-se das "lutas de vindita", mantidas entre grupos primitivos agrícolas ou caçadores e coletores nômades. Essas sociedades carecem de governo central com jurisdição sobre os diferentes grupos locais e, em tal circunstância, ofensas a membros de um grupo por indivíduos de outro podem determinar expedições punitivas: não pagamento do "preço da noiva", rapto, saque, estupro, invasão, assassinatos etc. Apesar do aspecto disfuncional dessas vinganças, elas propiciam maior coesão do grupo e sua cultura.
Estudos como os de Ronald M. Berndt, nos planaltos da Nova Guiné, publicados em 1964, demonstram a função reguladora da guerra para a ocupação e posse territorial: comprovou-se a expulsão de grupos perdedores de suas primitivas terras, que foram ocupadas pelos vencedores. Em outras situações, porém, territórios e fronteiras permaneceram intactos. Nem sempre a conquista territorial -- por extensão, de bens e recursos naturais -- é o móvel principal da guerra entre sociedades primitivas. Além disso, em numerosos casos o grupo vencedor é incapaz de ocupar e defender efetivamente áreas territoriais maiores do que as que possuía anteriormente, seja por incapacidade tecnológica, seja por baixo contingente populacional, que, distribuído num território excessivamente grande, tornaria o grupo mais vulnerável a ataques externos.
O estudo da guerra realizado por juristas, historiadores, economistas, psicólogos, sociólogos e antropólogos parece confirmar que, apesar de todas as diferenças decorrentes da tecnologia empregada em cada caso, às razões históricas e ideológicas que determinam cada conflito acrescentam-se aspectos estruturais-funcionais que tornam irrelevante, na análise do fato social "guerra", a distinção entre sociedades primitivas e sociedades modernas.
Evolução histórica - O estudo da guerra exige o exame da evolução das armas e da estrutura orgânica dos exércitos. As táticas militares dependem desses dois fatores. Desde tempos muito remotos existem armas ofensivas, como o venábulo (espécie de dardo ou lança curta), a lança ou a espada, e armas defensivas, como o escudo, a couraça e as armaduras. As táticas dos grupos guerreiros primitivos constituíam-se de simples encontros, vencidos pelo mais forte.
Por volta de 1800 a.C., os hicsos, procedentes do sul da Ásia, inventaram o carro de guerra puxado por cavalos, com um ou dois arqueiros. Os carros precediam na batalha os soldados a pé, com a finalidade de romper as formações inimigas. No Egito, o faraó Tutmés I melhorou os carros e dividiu sua infantaria em pesada, com lança e escudo, e ligeira, com arco, machado e funda.
Os assírios, por volta do século VII a.C., combinaram na batalha os carros pesados com a primeira cavalaria armada de arco ou espada e com a infantaria de arqueiros, lanceiros e escudeiros. Com essas forças, realizavam manobras de choque muito rápidas. Nos séculos VI e V a.C., os persas dominaram a Anatólia. Dario I, senhor de um grande império, deu ênfase à defesa para consolidar suas fronteiras e para isso incrementou os efetivos de arqueiros. Criou também uma organização com divisões de dez mil homens, distribuídos em dez batalhões, cada um deles com dez companhias.
A Grécia contribuiu para a arte da guerra com sua falange de infantaria, concebida como unidade compacta, resistente e portanto apta para a defesa. A falange, que interveio nas guerras contra os persas, era formada por oito fileiras de soldados, armados com piques (lanças antigas) de dois a cinco metros. No século IV a.C., Filipe II da Macedônia deu mais poderio à falange mediante a constituição dos chamados sintagmas, de 16 fileiras de 16 homens armados de lanças longas. Para aumentar a mobilidade e proteção, criou a infantaria ligeira, armada de arcos, fundas e azagaias (lanças curtas de arremesso).
Na antiga Roma, foi concebida a legião. Suas armas eram a espada curta ou gladius, que no império fez-se mais longa (spatha); o pilum ou venábulo de arremesso, com cerca de dois metros, e a hasta ou pique. Espada e lança eram as armas da cavalaria. As tropas auxiliares utilizavam arcos, fundas e outras armas. Na república, período compreendido entre o século V e o governo de Júlio César, no século I a.C., a legião organizava-se em manípulos de 120 infantes e tinha dez alas de 12 fileiras. Duas legiões de 4.200 homens cada uma, acompanhadas por uma pequena força de cavalaria e outras unidades de apoio, formavam um exército de cerca de dez mil homens. Roma destacou-se também por suas obras de fortificação. Durante o império, elas protegiam o limes ou fronteira, que chegou a ter nove mil quilômetros em território continental, com fossos, taludes, paliçadas, muros e torres de vigia.
Queda do Império Romano e Idade Média - Bizâncio preservou a herança romana a partir da queda do império, no ano 476 da era cristã. Seu exército baseava-se na cavalaria, com arqueiros e lanceiros muito hábeis. Essas forças, juntamente com a infantaria, conseguiram manter o espírito guerreiro do estado romano até 1453. Os povos germanos invasores do império ocidental careciam de organização tática própria e copiaram ou adaptaram os métodos romanos.
A organização militar medieval evoluiu do predomínio da cavalaria do homem de armas até um progressivo emprego da infantaria organizada, com táticas cada vez mais aperfeiçoadas. Por volta do século XI, o núcleo tático básico era o cavaleiro fortemente armado, rodeado de homens a pé que constituíam sua infantaria ligeira. Na Europa, triunfavam as táticas defensivas, materializadas em castelos e fortalezas inexpugnáveis e nas pesadas armaduras dos cavaleiros. As armas mais usadas eram a lança, o martelo, a maça, o escudo e a besta, arco horizontal que lançava flechas e dardos, muito eficaz para o uso em baluartes e torres de castelos.
No século XIV, as armas de fogo começaram a tornar-se eficazes e, com elas, entrou em declínio a supremacia do cavaleiro armado e dos castelos. Assim, na batalha de Crécy (1346), primeiro grande confronto da guerra dos cem anos entre Filipe VI da França e Eduardo III da Inglaterra, os britânicos já empregaram precários canhões, embora naquela ocasião a vitória tenha se devido mais à destreza de seus arqueiros. No século XV, surgiu na Suíça uma falange com três quintos de seus homens armados com lanças longas, um quinto com lanças e um quinto com bestas, posteriormente substituídas por bocas de fogo. A falange suíça, primeira unidade regular dotada de armas de fogo, sabia atacar com rapidez e disciplina e, se necessário, defendia-se segundo a tática denominada "em ouriço", em todas as direções.
Os ingleses e suíços acabariam também vencidos nos campos de batalha ao generalizar-se o uso das armas de fogo. Em 1450, o exército de Carlos VII da França, que contava com colubrinas (peças de artilharia medievais), na batalha de Formigny bateu com fogo de enfiada -- disparos diretos no flanco do objetivo -- as formações de arqueiros. Em 1453, os turcos abriram uma brecha nos muros de Constantinopla depois de quarenta dias de bombardeio com setenta canhões. Desde então, as armas de fogo tornaram-se elementos obrigatórios e exigiram a reestruturação de todas as premissas de combate.
Guerras senhoriais modernas e guerras imperiais - A evolução das armas de fogo foi muito lenta nos séculos XIV e XV. As peças pequenas faziam quatro disparos em uma hora e as pesadas não disparavam mais que oito vezes num dia. A progressiva eficácia dessas armas, no entanto, levou à progressiva desaparição da cavalaria coberta de ferro.
A escola espanhola de tática foi dominante na Europa durante mais de um século e tornou possível a colonização das terras americanas e a expansão do império. O terço espanhol, criado em 1534, era uma unidade tática com cerca de três mil homens, subdividida em 12 companhias de 250 homens, dos quais metade era de lanceiros e a outra metade de arcabuzeiros. A cavalaria correspondia a 1/12 da infantaria e, para cada mil homens, havia uma peça de artilharia. No final do século XVI, os arcabuzeiros foram substituídos por mosqueteiros, por ser o mosquete, arma longa que era disparada sobre uma forquilha, mais rápido e eficaz do que o arcabuz.
Foram característicos daqueles tempos os sítios a praças fortes. Progrediu-se muito em matéria de fortificação e nas operações de cerco, abordagem e ataque a praças fortificadas. No século XVI, brilhou o gênio militar de Gustavo Adolfo da Suécia na guerra dos trinta anos. Seus soldados utilizaram um cartucho de papel para o mosquete ligeiro, que permitia certa velocidade no disparo. Sua artilharia fez-se mais rápida e fácil de manejar, com velocidade de tiro superior à dos mosqueteiros. A cavalaria sueca armou-se de pistolas e sabres e contou com o primeiro corpo de dragões armado de carabinas e armas brancas longas. Na vitória de Breitenfeld sobre os príncipes alemães, em 1631 -- ainda durante a guerra dos trinta anos -- os suecos fizeram uma preparação com fogo de artilharia, depois da qual os infantes investiram contra o objetivo.
Nos séculos XVI e XVII o dispositivo de batalha tinha a infantaria no centro, artilharia nos intervalos da infantaria, cavalaria pesada nas alas e cavalaria ligeira e arcabuzeiros na frente. Desse período datam as primeiras unidades de corpos auxiliares. Na França, o marquês de Louvois, ministro inspirador, no terreno político, do imperialismo de Luís XIV, organizou a intendência e criou a logística de campanha com reservas de mantimentos, munição e equipamento. A baioneta substituiu o pique e passou a armar a boca dos mosquetes. As tropas formavam e avançavam em três filas, que se detinham para abrir fogo em salvas à ordem do oficial.
No século XVIII, Frederico II da Prússia aperfeiçoou as táticas e conseguiu que seu exército executasse manobras em formações lineares, enquanto seus adversários permaneciam paralisados e sem iniciativa. Sua infantaria, com fuzil de chispa, abria fogo a cada poucos segundos, detendo-se a intervalos de alguns passos. A cavalaria tornou-se arma de choque e a artilharia dividiu-se em pesada, de acompanhamento e de parapeito. Tais características proporcionaram a suas forças uma notável superioridade sobre o inimigo.
Guerras nacionais - O primeiro exército popular nacional surgiu com a revolução francesa. Tinha mais mobilidade e era mais rápido que os oponentes e abria fogo com grande eficácia. A organização militar consolidou o batalhão como unidade tática e criou a brigada, em substituição ao regimento, e a divisão, que reunia várias brigadas. A artilharia a cavalo generalizou-se e o foguete começou a ser empregado como arma de artilharia. Nasceram também o serviço sanitário de campanha e o estado-maior, corpo de oficiais cuja missão é assessorar tecnicamente seus superiores e zelar pela distribuição e execução das ordens.
O exército napoleônico, modelo para seus contemporâneos, caracterizou-se pela grande facilidade de movimento estratégico. Era especialmente ofensivo e atuava dividido em vanguarda, massa de combate e massas de manobra e ruptura. A cavalaria ligeira era empregada em ações móveis e a pesada reservava-se para o choque. A artilharia, que cobria as ações da infantaria móvel e veloz, situava-se próximo à massa de combate. Os sapadores intervinham nos cercos às praças fortes.
Em 1815, com a derrota definitiva de Napoleão na batalha de Waterloo, chegou ao fim a era em que infantaria, artilharia e cavalaria entravam em contato direto para combater. Inovações técnicas como o cartucho de percussão e a bala longa (que deram maior precisão e alcance ao fuzil), o revólver, a carabina de precisão, a metralhadora, o telégrafo, a ferrovia e a máquina a vapor alteraram as dimensões dos teatros de operações e, com isso, a forma de manobrar dos exércitos. Tais inovações foram o principal fator condicionante das contendas que antecederam a primeira guerra mundial, como a guerra da Crimeia (1853-1856) e a guerra franco-prussiana de 1870-1871.
Primeira guerra mundial - Os exércitos iniciaram a primeira guerra mundial com a ideia básica da supremacia da ofensiva, opinião que haveriam de mudar com a evolução dos acontecimentos. O emprego da metralhadora acabou com as cargas de cavalaria e sua eficácia como arma defensiva fez fracassar os ataques em massa e deu origem ao nascimento da seção e do pelotão. A guerra de trincheiras introduziu o uso do morteiro, arma de tiro curvo. O carro de combate, empregado pela primeira vez em 1917, na batalha de Cambrai, deu início à guerra blindada. A artilharia multiplicou calibres, aumentou alcances e melhorou os métodos de correção do tiro. Em 1915, os alemães empregaram pela primeira vez gases asfixiantes na tomada da cidade belga de Ypres, com o que se deu início à guerra química. Em outras áreas, foi aperfeiçoada a fortificação de campanha, que favoreceu a guerra de trincheiras, o transporte motorizado generalizou-se e a aviação travou batalhas aéreas independentes.
Segunda guerra mundial - Rumo à guerra nuclear. Depois da primeira guerra mundial, registrou-se um aperfeiçoamento das táticas defensivas, provocado pela maior eficácia das armas. O fuzil de repetição evoluiu para o automático e surgiu a metralhadora de mão. A potência de fogo da infantaria aumentou consideravelmente. A metralhadora diminuiu de peso e sua velocidade de tiro ficou maior. A melhoria dos carros de combate e veículos mecanizados estimulou o aperfeiçoamento das armas anticarros, entre elas os canhões e as bazucas. Do mesmo modo, desenvolveu-se a artilharia antiaérea, em oposição aos avanços da aviação. A artilharia aumentou extraordinariamente de alcance e precisão, motorizou-se e surgiu a peça autopropulsora. Empregaram-se pela primeira vez foguetes e mísseis teledirigidos. A bomba atômica foi utilizada contra as cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945, causando cerca de 200.000 mortes.
O conflito consagrou a guerra total - Os combates foram travados em todo tipo de terreno e com técnicas variadas: praticaram-se a guerra blindada e mecanizada, operações de envolvimento vertical com para-quedistas, desembarque aéreo com planadores, desembarque anfíbio nas costas e travessia de rio em pontes de construção rápida. No decorrer das hostilidades, coexistiram o combate no deserto, na selva e nos mares, a guerra eletrônica e a guerra atômica. A logística passou a ter função decisiva na batalha.
Guerra fria - A partir da segunda guerra mundial, consolidou-se a divisão do mundo em dois blocos político-militares antagônicos, liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, que aglutinavam militarmente em torno de si todos os países do mundo mediante, respectivamente, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e o Pacto de Varsóvia. O período, que durou até a dissolução da União Soviética, caracterizou-se pela ameaça de iminente deflagração da guerra atômica, já que as duas superpotências e alguns de seus aliados possuíam arsenais nucleares e empenhavam grande parte de seus recursos na corrida armamentista e na exploração espacial com fins bélicos.
Os armamentos convencionais também sofreram rápido progresso tecnológico: o helicóptero permitiu operações aeromóveis extremamente rápidas, as armas da infantaria ficaram mais leves e diminuíram de calibre e a vigilância do campo de batalha melhorou com o emprego de elementos como radares, visores de raios infravermelhos -- que permitem a visão noturna -- e outros modernos sistemas de controle.
A modernização da tecnologia militar e, em especial, a ameaça de um conflito atômico ou termonuclear -- a energia da fusão nuclear incrementaria em grande medida o poder destrutivo das bombas atômicas da segunda guerra mundial -- deram lugar à reestruturação obrigatória do fenômeno bélico, já que uma hipotética conflagração na qual se utilizasse armamento nuclear determinaria o desaparecimento de grande parte da humanidade. A ameaça da guerra ficou condicionada a critérios geopolíticos. As grandes potências não se enfrentavam diretamente por causa do risco da "destruição mútua assegurada", ainda que com frequência apoiassem bandos opostos em conflitos locais nos quais se utilizam armas convencionais.
A ação psicológica teve papel fundamental durante a guerra fria, com a mobilização de recursos de publicidade destinados a conquistar a opinião pública mundial.
Guerras de descolonização - A principal característica dos conflitos efetivamente deflagrados depois da segunda guerra mundial foi o confronto entre potências de alta tecnologia bélica e recursos ilimitados e países pobres mas muito organizados para a guerra, munidos de armamento obsoleto ou primitivo, cujo teatro de operações era seu próprio território, em que o apoio popular desempenhava papel decisivo. A guerra da Coreia e as guerras coloniais da Indochina e da Argélia foram os principais conflitos armados a partir de meados do século XX.
A Guerra do Vietnam contra o colonizador francês, que prosseguiu com a intervenção americana em 1965, é o exemplo clássico desse tipo de conflito. Aos milionários recursos mobilizados pelos Estados Unidos, o exército popular do Vietnam do Sul opôs a resistência em massa, com apoio logístico do Vietnam do Norte e da União Soviética. A austeridade dos combatentes vietcongues foi fator determinante para a vitória, assim como sua organização, motivação ideológica e emprego dos recursos humanos contra a máquina militar inimiga.
Guerra na TV. Um dos últimos conflitos armados do século XX, a guerra do golfo Pérsico (1991), no ocaso da guerra fria, constituiu um fenômeno de comunicação de massas sem precedentes. Pela primeira vez na história, espectadores de televisão de todas as partes do mundo assistiram, via satélite, as incursões aliadas contra o invasor iraquiano do Kuwait. Intercalados na programação de entretenimento, foram transmitidos instantâneos de dois mil ataques aéreos americanos contra alvos iraquianos e, logo, dos combates terrestres.
As Principais Guerras de Todos os Tempos
Guerras
As
guerras são confrontos sujeitos a interesses na disputa entre dois ou
mais grupos distintos de indivíduos mais ou menos organizados,
utilizando-se de armas para tentar derrotar o adversário. A guerra pode
ocorrer entre países ou entre grupos menores como tribos ou facções
políticas dentro do mesmo país (confronto interno). Em ambos os casos,
pode-se ter a oposição dos grupos rivais isoladamente ou em conjunto.
Neste último caso, tem-se a formação de aliança(s).
Diz-se
guerra civil a um confronto que provoca uma onda de conflitos armados,
programados ou planejados entre facções, partidos ou grupos de um mesmo
povo, ou ainda a que ocorre entre povos ou etnias habitantes de um mesmo
país. Expressões como "guerra econômica" e "guerra psicológica"
designam também os confrontos diretos provocados pelos pequenos
conflitos efervescentes, agudos com ações igualmente violentas mas sem o
uso de armas, necessariamente. O confronto ou a guerra pode ter motivos
religiosos, étnicos, ideológicos, econômicos, territoriais, de
vingança, ou de posse (quando um grupo deseja algo do outro).
Denomina-se guerrilha a uma modalidade de campanha bélica de caráter
limitado, na qual pequenas unidades irregulares, utilizando a mobilidade
e a surpresa, atacam as tropas regulares do inimigo, quase sempre pelos
flancos ou pela retaguarda, retirando-se em seguida para seus abrigos,
geralmente na selva, montanhas ou outros locais de difícil acesso. Esse
tipo de guerra só é possível com o apoio da população civil.
Etimologicamente, a palavra guerrilha significa guerra reduzida ou
limitada. No entanto, esse conceito foi ultrapassado em vários casos, em
que o vulto dos exércitos guerrilheiros e sua área de ação assumiram
características de uma guerra convencional, ainda que utilizando táticas
simples, como aconteceu com os guerrilheiros iugoslavos na segunda
guerra mundial ou com os vietcongs, durante a guerra do Vietnam.
Em 1808, durante a guerra de independência da Espanha, a resistência contra o exército napoleônico francês baseou-se essencialmente em combates de unidades irregulares comandadas por chefes populares, como Juan Martín Díaz, el Empecinado, ou Francisco Espoz y Mina. A denominação adotada por aqueles combatentes -- guerrilleros -- estendeu-se a outros idiomas e serviu de base para a palavra "guerrilha".
O conceito de guerrilha confundiu-se também nos tempos modernos com o de guerra popular, ou subversiva, em que forças irregulares atuam no interior de um país, para defendê-lo da investida de invasores ou para derrubar as autoridades constituídas. O guerrilheiro ataca o inimigo por um fim que ele considera justo, como a reivindicação de direitos de liberdade e de nacionalidade.
Arte e ciência da guerrilha - A guerrilha originou um modelo estratégico de libertação ou de luta prolongada, desenvolvido pelo general francês André Beaufre. Essa estratégia consiste em fustigar o inimigo sem lhe dar descanso, conseguindo com isso abalar-lhe o moral.
A guerra de guerrilhas opõe, de um lado, a libertação nacional, a independência ou a descolonização; e, de outro, os interesses econômicos, as zonas de influência ou as questões relacionadas com o poder geoestratégico. No plano da estratégia geral, a guerrilha tem como primeiro objetivo impedir que o inimigo ocupe o território totalmente, que a população fique submissa e que a administração se estabeleça. Suas operações devem recorrer à ajuda da população civil, para com ela montar unidades de fácil manutenção, aptas a transformarem-se no futuro em unidades regulares.
A tática guerrilheira baseia-se na mobilidade, na capacidade de iniciativa e no apoio da população. A mobilidade é consequência da pequena dimensão das unidades e do seu território de atuação; já a capacidade de iniciativa é obtida pela estrutura descentralizada de comando e o espírito agressivo que anima o guerrilheiro, com o apoio da população. A atuação da guerrilha se resume em retardar, com emboscadas e obstáculos, o inimigo que avança; obrigá-lo a combater e fazer com que perca tempo quando se detiver; acossá-lo e depois retirar-se, esconder-se e dispersar-se antes do ataque inimigo; e manter-se escondido enquanto as tropas inimigas se revelarem ativas.
Este tipo de luta foi analisado no século IV pelo general chinês Sunzi (Sun-tzu), que afirmou: "Um general vitorioso evita a fortaleza e golpeia a fraqueza." O general cossaco Denis Vassilievitch Dadivov, que comandou a luta guerrilheira contra Napoleão Bonaparte, considerava como seu principal objetivo isolar o inimigo de sua base de operações. Foi Mao Zedong (Mao Tsé-tung), o fundador do socialismo na China moderna, quem melhor se adaptou a seus próprios princípios, registrados em seu livro sobre a guerra de guerrilhas: aproximação indireta, golpes de surpresa e armadilhas, mobilidade contínua, fuga etc.
Do ponto de vista legal, os guerrilheiros têm tratamento de combatente quando cumprem as condições de obediência a um chefe, usam um distintivo fixo, portam abertamente suas armas e respeitam as leis e costumes da guerra.
Histórico - As raízes da guerrilha se confundem nos tempos remotos com as formas de luta dos povos primitivos contra os exércitos regulares dos impérios. Assim, na península ibérica, Viriato, chefe da confederação céltica dos lusitanos, do século II a.C., combateu com êxito as legiões romanas, utilizando táticas guerrilheiras.
No século XVIII, a guerra de independência dos Estados Unidos deu margem à criação de bandos irregulares contra os ingleses, como o grupo de Francis Marrion, na Carolina do Sul. No princípio do século XIX, as guerrilhas espanholas encurralaram o exército napoleônico, até sua retirada. Já no século XX, durante a primeira guerra mundial, o oficial britânico T. E. Lawrence ("Lawrence da Arábia") comandou vitoriosamente a revolta árabe contra os turcos, empregando essa estratégia de luta.
Durante a segunda guerra mundial, nos países ocupados pelos nazistas criaram-se múltiplos movimentos de resistência guerrilheira, como os cetniks e o titoísmo iugoslavo, o milorg norueguês, o hetverzet belga e holandês, o maquis francês e os partigiani italianos. Paralelamente, na China, os sucessivos choques de Mao Zedong com os japoneses e com as tropas de Chiang Kai-shek desenvolveram e assentaram numerosos princípios básicos da moderna guerra de guerrilhas.
Desde a década de 1950 essa modalidade de luta se generalizou, passando a ser utilizada na maioria das antigas colônias africanas e asiáticas que lutavam pela independência. Na América Latina, um exemplo notável de êxito da guerrilha ocorreu em Cuba, onde Fidel Castro, no início à frente de um pequeno grupo, derrubou a ditadura de Fulgêncio Batista e chegou ao poder em 1959.
Anti-guerrilha - A luta para vencer a guerrilha originou um tipo de tática militar denominado anti-guerrilha, que sai em busca da localização, do isolamento e da eliminação da estrutura guerrilheira. A anti-guerrilha pretende, ao mesmo tempo, defender a população, as instalações e os serviços públicos dos ataques guerrilheiros e obrigar o inimigo a um combate aberto que propicie sua destruição. As forças anti-guerrilheiras incluem o próprio exército regular, forças policiais e civis. A ação coordenada de todas elas deve resultar numa atitude ofensiva, a fim de isolar a guerrilha e controlar a população.