Movimento Operário no Brasil e no Mundo

Surgido em consequência da concentração de trabalhadores nas grandes fábricas criadas a partir da revolução industrial, o movimento operário luta para melhorar as condições de vida da população trabalhadora e mesmo para modificar a ordem institucional em muitos países. Organizações mais radicais do proletariado, inspiradas em ideias anarquistas e comunistas, lideraram historicamente revoluções sociais cujo objetivo era criar um novo tipo de sociedade.
Antes da revolução industrial, os movimentos de protesto de
origem urbana ou rural caracterizavam-se pela escassa coesão ideológica e
por seu caráter violento e efêmero. A consciência de classe e a
necessidade de formar organizações permanentes para dirigir a luta
operária apareceram em consequência das novas condições de trabalho que a
Revolução Industrial criou, a partir do final do século XVIII. Além da
desumanização do trabalho, provocada pela introdução das primeiras
máquinas, o rígido sistema gremial foi substituído por um mercado livre
de trabalho. Com isso, ocorreram fenômenos como o prolongamento da
jornada de trabalho, a redução dos salários, o emprego de mulheres e
crianças em atividades insalubres, a falta de higiene e de medidas de
segurança nas fábricas e outros problemas. Foi no Reino Unido, primeira
nação industrializada do mundo, que surgiram as primeiras organizações
operárias, dirigidas a defender os trabalhadores das penosas condições
em que viviam e protestar coletivamente contra elas.
Na fase inicial do movimento, os trabalhadores industriais dirigiram
toda sua agressividade contra as máquinas, às quais culpavam pelo
desemprego e pela piora de suas condições de vida. O movimento
destruidor de máquinas chamou-se ludismo e foi duramente reprimido, até
que deu lugar a novos métodos de luta, baseados na organização sindical e
nas cooperativas. A limitação da jornada de trabalho e o reconhecimento
legal do direito de associação foram as principais reivindicações das
trade unions (sindicatos), que já estavam perfeitamente organizados no
Reino Unido na década de 1830.
O movimento cartista, surgido no calor da luta operária, entregou ao Parlamento britânico, em 1838, uma série de reivindicações políticas que incluíam o sufrágio universal, entendido como meio de alcançar as melhorias sociais. Em paralelo, o movimento cooperativista, impulsionado por alguns dos mais destacados socialistas utópicos - como Robert Owen, no Reino Unido, e Charles Fourier, na França - procurava criar o modelo de uma nova sociedade, baseado em melhores condições de trabalho e na coletivização dos meios de produção.
Na França, assim como em outros países europeus, o movimento operário associado aos partidos republicanos e democratas progrediu ideologicamente com as teorias de pensadores socialistas como Louis Blanc, Pierre-Joseph Proudhon, Auguste Blanqui e outros. Depois dos eventos revolucionários que sacudiram a Europa em 1848, ano de publicação do Manifesto comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, o movimento operário dividiu-se em várias tendências. Os marxistas e alguns anarquistas pregavam a luta revolucionária para derrubar o sistema capitalista; os proudhonianos defendiam a implantação pacífica de uma sociedade coletivista e os reformistas preferiam colaborar com os regimes liberais, para obter conquistas políticas e sociais.
Internacionalismo - A obra teórica de Karl Marx conferiu ao movimento
operário um conteúdo ideológico mais sólido que o de outras tendências
socialistas. O anarquismo imprimiu um sentido moral e universalista à
revolução, que passou a ser o objetivo político do proletariado e do
campesinato de alguns dos países mais atrasados no processo de
industrialização, como Espanha e Rússia. As duas tendências,
representadas por Marx e Bakunin, respectivamente, se uniram em 1864 sob
a bandeira da Associação Internacional de Trabalhadores (AIT). Mais
conhecida como Primeira Internacional, a AIT foi fundada em Londres com o
objetivo de fomentar a solidariedade proletária e promover a conquista
do poder por aquela classe social.
Inicialmente, os sindicatos ingleses e franceses detinham a maior representação na Internacional; a partir de 1868, porém, foram criadas seções regionais na Bélgica, Espanha, Suíça, Itália e outros países. A desagregação da Primeira Internacional ocorreu por causa da perseguição movida pelos governos aos seus dirigentes, mas sobretudo pelas discordâncias entre Marx e Bakunin. A derrota da Comuna de Paris em 1871, ensaio frustrado de governo socialista que teve a participação dos internacionalistas, precipitou a dissolução da organização. Durante o Congresso de 1872 em Haia, as seções bakunistas se separaram da AIT e se integraram à Aliança Internacional, uma nova organização anarquista. O fim estava próximo: a Primeira Internacional acabou em 1876, e a Aliança realizou seu último congresso no ano seguinte.
Enquanto isso, a expansão do capitalismo e sua evolução para a etapa imperialista, que se caracterizou por "exportar" para a periferia as contradições do sistema, tornaram possível a concessão de benefícios sociais nos países industrializados. O movimento operário tendeu a orientar suas atividades no sentido de criar organizações sindicais consolidadas e partidos social-democratas nacionais. Em 1889 foi fundada a Segunda Internacional, em que predominava o Partido Social Democrata Alemão. O principal teórico da revisão do marxismo foi Eduard Bernstein, que concebeu a ideia de alcançar o socialismo por um processo de aperfeiçoamento do capitalismo.
A deflagração da primeira guerra mundial demonstrou a fragilidade do conteúdo internacionalista dos partidos social-democratas da época, pois cada um apoiou o governo de seu país em lugar de trabalhar pela solidariedade operária entre os países em guerra.
Revolução russa e evolução do movimento operário. Diante do "revisionismo" dos socialistas e social-democratas, os revolucionários russos - principalmente Lenin - promoveram a criação de um partido profissional, que representasse a vanguarda do proletariado. O sucesso da revolução russa de 1917 alimentou, na classe operária de outros países, a ilusão de uma rápida vitória do comunismo internacional, e com isso a Europa viveu, entre 1918 e 1922, um novo período de explosões revolucionárias. Em 1919 fundou-se em Moscou a Terceira Internacional, ou Internacional Comunista. Os partidos social-democratas da Hungria, no poder, combateram a revolução proletária. Nos demais países da Europa, fracassaram as revoltas isoladas dos novos partidos comunistas.
Em reação ao ativismo comunista, surgiram os partidos fascista e nazista, que chegaram ao poder na Itália e na Alemanha, respectivamente. Esses partidos tinham tendência a incorporar, em seus programas, elementos do trabalhismo e do sindicalismo.
O movimento comunista se dividiu em 1938, quando Leon Trotski fundou a Quarta Internacional, oposta ao stalinismo. O anarquista perdeu terreno, na primeira metade do século XX, para a social-democracia e para o comunismo.
Depois de um período de isolamento e decadência, os partidos comunistas voltaram a crescer na Europa, após a segunda guerra mundial, principalmente na França e na Itália. A recuperação econômica do continente fez com que esses partidos assumissem papéis compatíveis com os estados capitalistas democráticos. Os grandes sindicatos socialistas e comunistas da Europa, assim como os sindicatos americanos, se transformaram em instituições integradas ao sistema econômico e social capitalista e chegaram mesmo a colaborar com os governos nos planos de austeridade adotados em épocas de crise. A participação operária em alguns escassos episódios revolucionários, como o de maio de 1968 em Paris, ocorreu à margem das diretrizes sindicais.
O fenômeno de institucionalização do sindicalismo se manifestou com maior intensidade dentro dos regimes comunistas, na União Soviética e nos países do leste europeu. Os tímidos movimentos populares de oposição aos regimes centralizadores ganharam expressão no final da década de 1980. Com a dissolução da União Soviética, em 1991, os trabalhadores dos antigos países comunistas passaram a apoiar abertamente o retorno à economia de mercado. O final do século XX encontrou o movimento operário europeu dividido e ameaçado por conflitos nacionalistas, étnicos e religiosos, no leste, e pelo recrudescimento do nazi-fascismo e do racismo, no oeste.
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