Marinha de Guerra

Marinha de Guerra

Marinha de Guerra

Marinha de Guerra é a força armada e instituição composta pelos oficiais e praças, embarcações, estabelecimentos e material bélico empregados por uma nação para defender-se e exercer seu poder nas águas dos mares e dos rios. O conjunto de navios subordinados à marinha de guerra chama-se armada. As instalações da marinha de guerra em terra firme não são menos importantes que seu patrimônio marítimo ou fluvial: são bases de apoio logístico, ensino, instrução, planejamento e pesquisa, centros de produção industrial ou de comunicações e quartéis de unidades especiais, como os de fuzileiros e homens-rãs.

Embora os egípcios já possuíssem barcos ou esquadras de finalidades bélicas por volta de 3000 a.C., só a partir das grandes navegações, e da revolução comercial, as potências marítimas passaram a separar suas frotas mercante e militar, para dar a esta meios próprios e funções estratégicas.

Compete pois à marinha de guerra administrar o poder marítimo, e assegurar, na guerra, o domínio do mar, condição sabidamente indispensável para a vitória em qualquer conflito de amplas proporções. Cabe ainda a ela, em caso de guerra, garantir o transporte por via marítima das forças militares e de seus suprimentos para os locais onde serão utilizadas contra o inimigo, e é igualmente de sua competência garantir, em tais circunstâncias, a importação e a exportação de bens de consumo, armamentos, matérias-primas e materiais estratégicos importantes. Deve também impedir que o inimigo use as vias marítimas para transportar suas tropas, assim como exercer pressão direta ou indireta sobre os países neutros, e evitar que comerciem com países em guerra.

Outras atribuições não menos importantes da marinha de guerra são as de exercer pressão político-militar sobre o inimigo, impedindo-o de receber, por via marítima, carvão, petróleo e outros combustíveis. Deve, enfim, a marinha atacar objetivos terrestres do inimigo, ao cooperar com as forças terrestres e aéreas ou ao bombardear instalações e transportar aviões de combate.

Depreende-se que para avaliar a importância da marinha de guerra de um país, são considerados não apenas o número de navios e equipamentos, mas ainda a marinha mercante do país em questão, a localização geográfica das bases navais, o potencial das indústrias voltadas para a construção naval em todos os seus aspectos e até a capacidade econômica e tecnológica da nação a que pertença.

Efetivos das Armadas da Marinha

A importância da marinha de guerra nas disputas internacionais é claramente exemplificada pela hegemonia britânica exercida mais ou menos da metade do século XVIII até o auge de sua expansão colonialista, na segunda guerra mundial, período ao longo do qual desenvolveu sua marinha de guerra até torná-la a mais poderosa do mundo. Do fim da Idade Média até o começo dos tempos modernos, Portugal, Espanha, Países Baixos (Holanda), França e Reino Unido sucederam-se na descoberta e colonização de novas terras graças ao poder marítimo, então efetivamente primordial.

Efetivos das Armadas da Marinha Integram a armada as esquadras ou forças de alto-mar, quando destinadas a operações de guerra ou manobra e treinamento, assim como as forças de defesa costeira, utilizadas na defesa do litoral, e ainda as forças fluviais, que operam nos rios e lagos. Na segunda guerra mundial, consagrou-se o uso das forças-tarefa, grupamento de unidades diversas e reunidas em diferentes segmentos da armada, com o fim de cumprir uma mesma e determinada missão.

Em termos de organização interna, na marinha de guerra chama-se esquadrão, o grupamento constituído por duas ou mais divisões de navios do mesmo tipo; divisão, o grupamento de duas ou mais unidades; unidade, um navio de qualquer tipo; e trem, também denominado força de serviço da esquadra, o grupamento de navios auxiliares incorporados ao serviço da marinha de guerra. Classificam-se como material flutuante da armada os navios de guerra, navios auxiliares e embarcações de serviço.

Evolução das embarcações Evolução das embarcaçõesOs primeiros navios especialmente construídos para combate foram as galés ou galeras gregas, a partir do século VIII a.C. A princípio de mastro único, vela redonda e 25 remos de cada lado, tornaram-se depois birremes ou trirremes (isto é, de dois ou três pavimentos superpostos de remadores), dotadas de esporão e ponte de abordagem. Em Salamina, em 480 a.C., esses barcos, já com cerca de quarenta metros e 200 remadores, bateram a armada persa.

O Império Romano não fez qualquer progresso substancial em relação a esse tipo de embarcação. Só o tornou maior e mais pesado, com até 1.800 remadores mas, ainda assim, enfrentou com dificuldade as quadrirremes e qüinqüerremes cartaginesas.

Na Idade Média, os principais barcos de guerra foram a dromunda, birreme de vela triangular usada pelo império bizantino e, depois, pelos sarracenos em geral, e o dracar viquingue, mais leve e esguio, de vela quadrada e esporão metálico em cabeça de dragão. Contribuição decisiva de Bizâncio foi adaptar as dromundas para lançarem projéteis de 450 quilos a 700 metros, primeiro passo da artilharia naval. As maiores dessas naus dispunham de dois grandes castelos, um de proa, outro no meio. Em seu tempo se teria começado a utilizar o fogo grego ou greguês, anterior à pólvora e que ardia na água.

O primeiro canhão a bordo apareceu em meados do século XIII, pouco depois de se inventar o timão de popa e de se acrescentar um ou dois mastros aos barcos. As caravelas de Vasco da Gama (ainda no fim do século XV) já contavam com o uso da pólvora e com bombardas eficientes para seu tempo. Nessa etapa do Renascimento e a partir das grandes navegações, os remos ainda eram usados em galés e galeotas, mas davam lugar à ampla utilização das velas na mastreação das caravelas, naus, carracas e galeões. Do século XVI ao XIX, com o aperfeiçoamento dos grandes veleiros, a marinha fez progressos cada vez mais expressivos, sobretudo no que concerne à artilharia.

Os canhões de bronze fundido, inicialmente pouco numerosos nas carracas, eram já 186 no Henri Grâce à Dieu, do soberano inglês Henrique IV, e mais de 200 em alguns galeões do século XVII. Daí em diante, em brigues, corvetas e fragatas, seu poderio multiplicou-se. O Sovereign of the Seas, lançado ao mar pela Grã-Bretanha em 1637, tinha três mastros, deslocava 1.500 toneladas e estava armado com cem canhões. Ao final do século seguinte, nas guerras napoleônicas, o papel da artilharia naval já se tornara tão relevante quanto devastador.

O aumento do número de mastros determinou a diferenciação das formas de ataque. Distinguiu-se assim o ataque "para desarvorar" -- tática predominante entre espanhóis e franceses -- do tiro "para afundar", muito próximo do inimigo, e preferido pelos ingleses. As formações navais procuravam situar-se a barlavento -- na mesma direção do vento -- para conseguir manobra fácil, ou a sotavento -- no sentido oposto, para obter maior alcance de tiro em função da inclinação dos barcos.

Na metade do século XIX, com quase cem anos de revolução industrial, outra revolução foi a substituição das velas pelos motores a vapor, e da madeira pelo ferro na construção dos cascos. Os canhões passaram por enormes progressos e aumentaram cada vez mais em tamanho, calibre e quantidade. Por volta de 1890, a marinha de guerra deu outro enorme passo tecnológico, com o advento dos submarinos e dos torpedos. Quando principiou a primeira guerra mundial, o submarino tornara-se, com razão, a mais temível das armas com que uma armada podia contar.

Dessa fase em diante, embora cada vez mais especializadas e sob contínuo aperfeiçoamento, as embarcações mantiveram-se dentro de um padrão de tipologia relativamente estável. Ao salto qualitativo dos torpedos, acrescentaram-se as minas, a propulsão a óleo (de transporte muito mais fácil do que o carvão para as máquinas a vapor), os canhões carregados pela culatra e de tiro rápido, a blindagem de aço, a disposição do armamento em torres gêmeas e giratórias, os tubos de lança-torpedos (a partir do couraçado inglês Dreadnought, em 1905) e, na transição para a segunda guerra mundial, os canhões e metralhadoras anti-aéreas, estas logo duplas, mais tarde quádruplas e de crescente velocidade de tiro.

Quando rebentou a segunda guerra mundial, o encouraçado já tinha uma história de quase um século. Desde o início do emprego do ferro no revestimento dos cascos, procurara-se fazer da nau capitânia de cada esquadra uma fortaleza flutuante. Na guerra de secessão americana, entre 1861 e 1865, já se usaram encouraçados. Estes, no fim do século XIX, já possuíam couraça de 46cm e canhões com 33cm de calibre. O sistema repercutiu em todas as marinhas e o encouraçado atingiu seu apogeu. Confundiu-se, em seguida, com os cruzadores pesados. Os maiores encouraçados foram alemães, ingleses, americanos e sobretudo japoneses (os dois da classe Yamato deslocavam 72.000t, com nove canhões principais de 18 polegadas de calibre, isto é, 45cm).

Por volta de 1944 os encouraçados e cruzadores pesados cederam o lugar de força naval mais ofensiva aos porta-aviões, navios-aeródromos que passaram, com freqüência, a ser as naus capitânias das maiores esquadras. O primeiro deles, o inglês Hermes, deslocava 10.800 toneladas e levava vinte aviões. No final da guerra, os americanos estavam na dianteira e mais tarde passaram a investir nesse tipo de navio uma das maiores parcelas de seu orçamento militar: os modelos mais avançados (classe Nimitz), movidos a energia nuclear, ultrapassavam oitenta mil toneladas e levavam cem aviões supersônicos.

Na segunda metade do século XX, duas outras mudanças excepcionais multiplicaram o poder de fogo das marinhas de guerra: o submarino nuclear e os mísseis teleguiados, de numerosas especificações e finalidades. O primeiro revolucionou completamente o raio de ação dos submersíveis. O segundo revolucionou o sentido, o alcance e a precisão da artilharia naval. Sua modalidade mais terrível, a dos balísticos de ogivas atômicas lançados pelos "silos" de submarinos nucleares imersos, continua a ser uma das mais poderosas armas inventadas pelo homem.

Além dos submarinos, porta-aviões e cruzadores, as marinhas modernas compreendem também contratorpedeiros, fragatas e corvetas (no século XX, navios de porte menor que o do contratorpedeiro e destinados principalmente à luta anti-submarina, às  patrulhas e escoltas), navios-mineiros ou caça-minas, lanchas-torpedeiras, navios-monitores e anfíbios (para desembarque de tropas, viaturas e armamento), inclusive os hovercrafts, sobre colchão de ar.

Com o tempo, a classificação geral dos vasos de guerra teve de usar distinções mais complexas. Incluiu-se a categoria dos porta-helicópteros, que começaram a ser construídos na década de 1960, e separaram-se os submarinos e porta-aviões nucleares dos convencionais, assim como os cruzadores de combate (com mais de vinte mil toneladas) dos ligeiros (entre vinte mil e sete mil toneladas).

Somam-se, ainda, os navios-auxiliares, entre os quais os navios-tanques, os navios-hospitais, os de transporte de tropas, transporte de munições e de provisões, os navios-oficina, rebocadores etc., que têm a tarefa de estabelecer a ligação entre as bases e as zonas de combate e outras operações de guerra. Por fim, no total da marinha de guerra, contam-se as embarcações utilizadas para serviço local, nas bases navais -- barcaças, batelões de combustível, água ou carga, oficinas e guindastes flutuantes.

Nos progressos da marinha de guerra ao longo do século XX, devem-se lembrar como fatores fundamentais  os incontáveis inventos e inovações de toda ordem que alteraram a face da ciência e da tecnologia em geral, desde o sonar da década de 1920, e do radar da de 1940, aos satélites artificiais de comunicação ou de meteorologia, à adoção da televisão, dos computadores e muitos outros recursos da eletrônica para conferir maior precisão às operações navais.

Tais meios, que se multiplicaram em grande velocidade, alteraram a concepção e a própria imagem de alguns dos tipos de navios mais conhecidos: os cruzadores armados com canhões passaram a ser cada vez mais substituídos por embarcações mais leves (às vezes, com menos de sete mil toneladas) e capazes de lançar diversas categorias de mísseis mar-terra, mar-mar ou mar-ar (isto é, anti aéreos), com mecanismos de direção, detecção e identificação extremamente acurados. Experimentaram-se novos materiais na construção dos navios, acrescentando-se ao aço o alumínio, o titânio e a fibra de vidro, especialmente no caso dos contratorpedeiros, fragatas e corvetas.

Paralelamente, aumentaram as dimensões e as possibilidades das barcaças de desembarque, aptas a deslocar quatro ou cinco centenas de homens (ou seja, o equivalente a um batalhão completo), carros de combate e helicópteros especiais -- que, em casos de ação mais rápida, podem transportar a tropa por ar, até o objetivo na terra.

Tática e manobra naval Tática e manobra naval Manobra naval é o conjunto de evoluções dos barcos para formar um dispositivo de combate conveniente e ocupar uma posição vantajosa em relação ao inimigo, de modo a conseguir o melhor rendimento possível do poder de fogo existente. Entende-se por tática naval o emprego das forças correspondentes -- de superfície, submarinas, aéreas ou anfíbias -- com base na potência das unidades e de suas armas, velocidade e autonomia dos navios, organização, resistência e capacidade dos órgãos de controle e comando das operações.

Na antiguidade clássica e mesmo em boa parte da Idade Média europeia, a batalha naval era um choque de massas que se decidia por meio da abordagem, isto é, da ação pela qual se abalroava o barco adversário para tomá-lo de assalto. Daí a importância dos esporões de proa, que no fim do século XIX, com o uso do ferro, chegaram a ter uma efêmera reaparição, sobretudo em encouraçados da época.

No fim da Idade Média, sobretudo quando as velas predominaram sobre os remos ou os eliminaram, a evolução da tática e da estratégia fez surgir outros e diversos movimentos, até que no século XVII passou-se a empregar o alinhamento em alas ou colunas de alas, que assegurava melhor emprego da artilharia. No século XX, as formações logo se tornaram lineares e "superficiais de várias linhas": a linha de frente mostrou-se menos vulnerável aos torpedos, a de fila propiciava boa utilização dos canhões, e as linhas de superfície, que adotavam disposições variadas, eram as que se empregavam no deslocamento dos comboios.

A aparição do submarino e o uso militar da aeronáutica -- com o consequente advento da aviação naval -- suscitaram a opção pelas formações circulares, com os porta-aviões no interior do dispositivo, protegidos pelos cruzadores e contratorpedeiros, que estendem cortinas anti-submarinas e anti aéreas, oferecendo assim segurança ao deslocamento dos vetores do poder naval, para conduzi-lo aos teatros de guerra mais afastados.

Mais modernamente, navios equipados com avançados aparelhos eletrônicos deslocam-se a certa distância dos comboios e permitem um alerta imediato contra aviões, submarinos ou contratorpedeiros. A formação linear, todavia, mantém sua validade contra os torpedos ou canhões, ainda que perca eficácia contra os mísseis.

O futuro da armadaFoi durante a primeira guerra mundial que o poder marítimo atingiu sua máxima importância. Acredita-se que o poder marítimo inglês tenha decidido a guerra. Na segunda guerra mundial, no entanto, a menor vulnerabilidade alemã a um bloqueio pelo mar e o papel preponderante desempenhado pela aviação de bombardeio levaram muitos a concluir que a importância da marinha de guerra estava em declínio. Foi decisiva, porém, a participação das armadas dos aliados no domínio dos caminhos marítimos para o transporte dos vastos recursos utilizados pelas grandes potências envolvidas e na chegada a longínquos teatros de operações que só podiam ser alcançados e supridos por navios. O Reino Unido, os Estados Unidos e a União Soviética uniram-se no mar para isolar os integrantes do Eixo.

Na vitória final, o grande papel atribuído aos bombardeios aéreos realizados contra a Alemanha e o Japão, além da redução da importância do bloqueio naval como fator decisivo na guerra, levou à crença de que doravante caberia à marinha um papel relativamente secundário. Mais tarde, pelo fato de a armada depender cada vez mais da aviação embarcada e de mísseis de todos os tipos, chegou-se a tomar como certa essa posição. Outros teóricos e especialistas na guerra moderna, porém, argumentam que a aviação embarcada faz parte da armada e que os foguetes balísticos mudaram os rumos de toda artilharia.

A criação da bomba atômica levou a outra reavaliação da participação do poder marítimo nas guerras. Uma guerra nuclear pode ser tão curta que deixe de lado a marinha. Há, porém, quem argumente que a ação da marinha poderá ser importante, mesmo numa guerra atômica, se a marinha de guerra dispuser de navios equipados com mísseis e foguetes com ogivas atômicas. Em todo caso, além disso, as guerras da Coreia e do Vietnam, depois a rápida guerra do Golfo, demonstraram que o poder marítimo continua a ter  participação decisiva nos conflitos parciais.

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