Transportes, História e Infraestrutura de Mobilidade

A rapidez e facilidade dos deslocamentos de um ponto geográfico a outro sempre determinaram as condições de vida dos grupos humanos. Os meios de transporte tornaram o homem independente do meio em que vivia, permitiram-lhe ocupar todo o planeta, afetaram o aproveitamento dos recursos naturais e bens de produção e impulsionaram o comércio.
Os marcos mais importantes da operação econômica das diversas modalidades de transporte são: invenção da máquina a vapor (1807); início do transporte ferroviário (1830); início do transporte dutoviário (1865); início da utilização comercial do automóvel (1917); e início da aviação comercial (1926).
Conceituação
Do ponto de vista econômico, transporte é o setor da
atividade produtiva que interliga a produção e o consumo de bens. A
produção agrícola e industrial nacional, sua expansão quantitativa e sua
valorização mediante uma distribuição aos mercados consumidores em
condições técnicas e econômicas favoráveis dependem, em larga medida, de
um sistema de transporte moderno e abrangente. Em termos de
classificação do estoque de capital de uma coletividade, os sistemas de
transporte pertencem à infra-estrutura econômica e são objeto de um
setor especializado da economia. Por seu significado econômico, social,
cultural e político e sua influência nas mais variadas atividades, no
século XX o transporte tornou-se objeto de planejamento dos governos
centrais, sobretudo depois da segunda guerra mundial.
O transporte implica a utilização conjunta de um engenho e de uma
infra-estrutura física, que se compõe de uma via de transporte e de um
sistema de apoio -- estações, pátios ferroviários e rodoviários, silos e
armazéns, portos, terminais marítimos ou fluviais, aeroportos,
instalações de transbordo geral e instalações de bombeamento. O conjunto
das infra-estruturas utilizadas por um mesmo modo de transporte
constitui uma rede ou malha ferroviária, rodoviária, fluvial etc. A
expressão sistema de transporte refere-se ao conjunto das diferentes
redes. Os modos de transportes são o terrestre (ferroviário, rodoviário e
por dutos), o hidroviário, o marítimo e o aéreo. O surgimento do
hovercraft, veículo anfíbio que se move em terra e água, acrescentou uma
nova dimensão aos modos de transporte na segunda metade do século XX.
Transporte terrestre
Um dos primeiros veículos terrestres foi o trenó,
empregado há mais de dez mil anos nas grandes migrações da Ásia para a América pelo estreito de Bering. A domesticação de animais, por volta do
quarto milênio antes da era cristã, representou um grande avanço no uso
dos diferentes veículos e ampliou sua utilidade comercial. Dentre os
animais de tiro mais usados destacam-se o asno, o boi, o elefante, a
lhama, o camelo e o cavalo. A invenção da roda, por volta de 3500 a.C.,
revolucionou o transporte terrestre e nos milênios seguintes o uso de
carros de duas ou quatro rodas se difundiu pela Ásia e Europa.
O progresso nos transportes se acelerou a partir do século X a.C., com a
construção de estradas, primeiro na Mesopotâmia e mais tarde no Império
Romano. Depois da longa interrupção da Idade Média, período em que se
reduziu muito o comércio terrestre, a invenção do sistema de suspensão
possibilitou o emprego da carruagem no transporte de passageiros e
incentivou a retomada da construção de estradas.
![]() |
Transporte terrestre |
Transporte ferroviário
A ferrovia teve efeitos duradouros em todo o
processo econômico: os mercados para produtos manufaturados e
matérias-primas se ampliaram de modo extraordinário, reduziram-se os
custos de produção, com a maior eficiência e alcance da distribuição e,
devido ao crescimento do volume de vendas, os lucros dispararam.
Em alguns países, a concorrência foi o estímulo para o desenvolvimento das ferrovias pela iniciativa privada. Na maioria dos países da Europa, porém, o estado não só construiu as vias férreas como as manteve como sua propriedade e promoveu sua exploração. A construção de linhas transnacionais e transcontinentais também exigiu a intervenção do estado. Em certos casos, a construção de estradas de ferro transformou-se num meio de expansão e influência política, como ocorreu com a Estrada de Ferro de Bagdá, que liga o Oriente Médio à Europa, e a Transiberiana, que tornou mais acessíveis os vastos recursos naturais da Sibéria e mais estreitas as relações entre a Rússia e a China. Na Europa, a necessidade de utilizar as estradas de ferro para o transporte de tropas deu lugar ao estabelecimento de um firme domínio do estado sobre as companhias ferroviárias.
![]() |
Transporte Ferroviário |
A inauguração, em 1994, do túnel sob o canal da Mancha, ligando o Reino Unido à França, marcou a ampliação do uso da ferrovia e uma nova etapa no processo de integração ferrovia-rodovia. Os trens, desenhados especialmente para o trajeto nos cinquenta quilômetros do túnel, fazem o transporte de carros, caminhões de carga e passageiros. No ponto de destino, os veículos desembarcam dos trens diretamente num sistema de vias expressas.
Transporte rodoviário
As possibilidades comerciais do transporte
rodoviário ficaram evidentes durante a primeira guerra mundial. A
produção em larga escala de veículos militares ocorria na mesma época de
seu aproveitamento no transporte de soldados e apetrechos para as
diversas frentes de guerra. Os táxis de Paris, por exemplo, foram
requisitados para o rápido transporte de tropas para a batalha do Marne
em setembro de 1914.
![]() |
Transporte rodoviário |
Transporte por dutos
![]() |
Transporte por dutos |
Os primeiros oleodutos para o transporte de petróleo e derivados foram
construídos nos Estados Unidos entre 1875 e 1880. No século XX,
ampliaram-se as redes de dutos em diversas regiões do mundo,
especialmente naquelas que são grandes produtoras de petróleo, como o
Oriente Médio e a antiga União Soviética, ou grandes consumidoras, como a
Europa.
Oleodutos são tubos de metal, com diâmetro de até 76cm. Bombas situadas nos pontos de partida e em locais intermediários, de acordo com a extensão do oleoduto, impelem o produto. Os oleodutos são dotados de saídas para o ar e para gases, de registros para interromper o fluxo em caso de avarias e outros apetrechos, como indicadores e registradores de capacidade.
Transporte hidroviário
![]() |
Transporte hidroviário |
O uso adequado de uma rede hidroviária exige a construção de uma
infra-estrutura de vulto que envolve, entre outras medidas, a abertura
de canais para ligação das vias fluviais naturais, a adaptação dos
leitos dos rios para a profundidade necessária ao calado das
embarcações, a correção do curso fluvial, vias de conexão com outras
redes, como a ferroviária ou rodoviária, e um complexo sistema de
conservação de todo o conjunto. Os custos dos investimentos e manutenção
da infra-estrutura, no entanto, são rapidamente recuperados pela ampla
rentabilidade desse modo de transporte, existente em todos os países de
economia avançada.
Transporte marítimo
![]() |
Transporte marítimo |
Entre os fatos de maior repercussão no transporte marítimo no século XX
destacam-se: a substituição do carvão pelo petróleo como combustível; a
adaptação dos navios aos diferentes tipos de carga (granéis, gases,
petróleo, produtos químicos corrosivos, veículos etc.); o aumento da
tonelagem nos navios, das 12.000t dos primitivos petroleiros às 500.000t
dos superpetroleiros; a criação da turbina como meio de propulsão com a
consequente diminuição das avarias; a adoção dos containers e a
integração do transporte rodoviário com o marítimo no sistema
roll-on-roll-off.
As vias marítimas são especialmente favoráveis ao transporte de cargas de grande tonelagem a grandes distâncias. De modo geral, seus custos são de cinco a dez vezes menores do que os dos transportes interiores. A maior limitação ao uso de navios de grande porte é a infra-estrutura portuária capaz de recebê-los: um petroleiro de 275.000t tem um calado de 22m e é reduzido o número de portos no mundo com essa capacidade. Mesmo assim, o transporte marítimo ainda é o principal meio de deslocamento de carga pesada a longas distâncias.
Transporte aéreo
![]() |
Transporte aéreo |
O desenvolvimento do transporte aéreo tem sido contínuo, embora seja o
mais caro dos modos de transporte. Seu custo é quatro vezes maior do que
o do transporte rodoviário, seis a sete vezes maior do que o do
ferroviário e trinta a quarenta vezes maior do que o do transporte
marítimo.
O principal fator econômico no transporte aéreo é a necessidade de grande quantidade de energia -- consumo de combustível -- apenas para que o avião se mantenha em voo. As medidas essenciais de segurança também afetam o custo do transporte. No entanto, as altas velocidades atingidas pelos aviões permitem manter um serviço regular e frequente entre grandes distâncias, com reduzido número de aparelhos.
Transporte urbano
Entende-se por transporte urbano o movimento de
pessoas e mercadorias no interior de uma cidade, com utilização de meios
de transporte coletivos ou individuais. A característica essencial do
transporte de massas é que muitas pessoas são transportadas por ônibus
ou trens. Isso permite que muitas pessoas se desloquem pelo mesmo
corredor viário com maior eficiência, o que resulta em custos menores
para o usuário individual ou, desde que os custos são divididos entre um
grande número de indivíduos, em disponibilidade maior de verbas para
aplicar na melhoria do serviço.
Os serviços de transporte urbano de massas afetam diretamente a qualidade de vida de uma cidade, porque definem as alternativas de deslocamento que os habitantes têm a sua disposição, as atividades de que podem participar e os locais aonde podem ir. Os transportes disponíveis ao usuário são o resultado conjunto de políticas governamentais, da demanda global por deslocamentos numa região, da competição entre os diversos tipos de transportes e dos recursos disponíveis ao indivíduo para a compra dos serviços.
![]() |
Transporte urbano |
Na Idade Média europeia, o homem preferiu o cavalo a outros veículos,
mais utilizados pelas damas da nobreza. Difundiu-se o uso da basterna,
aristocrática liteira medieval puxada por mulas ou cavalos. Em meados do
século XV, surgiu na Hungria um novo tipo de veículo, o coche. Mais
leve, com as rodas traseiras mais altas que as dianteiras e suspensão de
carroceria por meio de correntes e correias, o novo modelo representou
maior conforto para os passageiros.
O êxito da suspensão contribuiu para a difusão da carruagem. Convertida em elemento de prestígio e ostentação, ela se tornou o meio de transporte urbano por excelência da alta sociedade no século XVII. Foi na Itália que a carruagem alcançou a máxima difusão. Chegou-se a contar em Milão, no fim do século XVII, mais de 1.500 veículos desse tipo. Diante da ocorrência de acidentes e atropelamentos, a autoridade se viu obrigada a limitar a velocidade das carruagens e a proibir que menores de 18 anos as conduzissem.
O transporte coletivo urbano, praticamente inexistente durante todo esse longo período, surgiu entre os séculos XVIII e XIX, com a utilização de ônibus ou bondes que circulavam sobre trilhos de ferro puxados por cavalos. Nas cidades situadas à margem de rios, como Londres, Paris ou Budapest, ou em cidades marítimas de características especiais, como Veneza e Estocolmo, o transporte em barcaças, lanchas e botes a remo ou vela foi sempre comum.
A ferrovia foi o primeiro meio de transporte urbano de tração mecânica. Assegurado seu sucesso como substituto inigualável da diligência no transporte interurbano, a partir de 1825 pensou-se em utilizá-la como meio de transporte nas cidades da era industrial, em constante crescimento. Surgiram assim os bondes puxados por pequenas locomotivas, em substituição aos cavalos. Com o advento da tração elétrica, as locomotivas foram substituídas por motores elétricos, não poluentes, alimentados por cabos aéreos. Uma modalidade que não circula sobre trilhos é o trolebus, movido a energia elétrica transmitida por cabos aéreos.
A explosão demográfica sofrida pelas principais cidades do mundo no século XIX, devido sobretudo à imigração provocada pela rápida industrialização, logo mostrou que o transporte de superfície, individual ou coletivo, não conseguiria atender às necessidades da população. Para enfrentar esse problema, Londres inaugurou, em 1863, a primeira linha de transporte subterrâneo do mundo, quase trinta anos antes do metropolitano (metrô) de Chicago, o segundo a ser construído.
Carl Friedrich Benz, em 1885, e Gottlieb Daimler, em 1886, concluíram na Alemanha os primeiros modelos de automóveis com motor de combustão interna a gasolina. Em pouco tempo as vendas desses veículos alcançaram cifras impressionantes. Utilizado como símbolo de prestígio social, tal como no século XVII havia ocorrido com a carruagem, o automóvel se fez presente com rapidez não só nas estradas como, principalmente, nas grandes cidades. Na Europa, o automóvel se impôs rapidamente, mas foi nos Estados Unidos que alcançou a máxima difusão e deu origem a uma poderosa indústria, de repercussão imediata no crescimento demográfico urbano.
O moderno transporte urbano apresenta sérios problemas nas grandes cidades, algumas das quais não reúnem condições adequadas para a circulação de automóveis. A poluição produzida pelo escapamento de motores, os engarrafamentos originados pelo excessivo número de veículos e os acidentes que provocam, assim como o amplo espaço de que necessitam para estacionamento, levaram as autoridades de muitas cidades a adotarem medidas de restrição do uso urbano de automóveis e de incentivo do transporte coletivo.
Transporte no Brasil

Transporte terrestre
As primeiras medidas concretas para a formação de
um sistema de transportes no Brasil só foram estabelecidas em 1934.
Desde a criação da primeira estrada de ferro até 1946 os esquemas
viários de âmbito nacional foram montados tendo por base as ferrovias,
complementados pelas vias fluviais e a malha rodoviária. Esses conceitos
começaram a ser modificados a partir de então, especialmente pela
profunda mudança que se operou na economia brasileira, e a ênfase passou
para o setor rodoviário. A crise econômica da década de 1980 e uma nova
orientação política tiveram como consequência uma queda expressiva na
destinação de verbas públicas para os transportes.
Transporte ferroviário
O setor ferroviário se desenvolveu de forma
acelerada de 1854, quando foi inaugurada a primeira estrada de ferro,
até 1920. A década de 1940 marcou o começo do processo de estagnação,
que se acentuou com a ênfase do poder central na malha rodoviária.
Diversas ferrovias e ramais começaram a ser desativados e a rede
ferroviária, que em 1960 tinha 38.287km, reduziu-se a 26.659km em 1980. A
crise do petróleo na década de 1970 mostrou a necessidade da correção
da política de transportes, mas dificuldades financeiras impediram a
adoção de medidas eficazes para recuperar, modernizar e manter a rede
ferroviária nacional, que entrou em processo acelerado de degradação.
Na década de 1980, a administração pública tentou criar um sistema ferroviário capaz de substituir o rodoviário no transporte de cargas pesadas. Uma das iniciativas de sucesso foi a construção da Estrada de Ferro Carajás, inaugurada em 1985, com 890km de extensão, que liga a província mineral de Carajás, no sul do Pará, ao porto de São Luís (MA). O volume de investimentos, porém, ficou muito aquém das necessidades do setor num país das dimensões continentais do Brasil.
Transporte rodoviário
As primeiras rodovias brasileiras datam do século
XIX, mas a ampliação da malha rodoviária ocorreu no governo Vargas, com
a criação do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) em
1937 e, mais tarde, com a implantação da indústria automobilística, na
segunda metade da década de 1950, a aceleração do processo de
industrialização e a mudança da capital federal para Brasília. A partir
daí a rede rodoviária se ampliou de forma notável e se tornou a
principal via de escoamento de carga e passageiros.
Na década de 1980, o crescimento acelerado deu lugar à estagnação. A perda de receitas, com a extinção, em 1988, do imposto sobre lubrificantes e combustíveis líquidos e do imposto sobre serviços de transporte rodoviário, impediu a ampliação da rede e sua manutenção. Como resultado, em fins do século XX a precária rede rodoviária respondia por 65% do transporte de cargas e 92% do de passageiros.
Transporte hidroviário
As hidrovias, uma alternativa sempre lembrada
dadas as condições privilegiadas da rede fluvial nacional, pouco se
desenvolveram. A navegação fluvial nunca foi bem aproveitada para o
transporte de cargas. Em 1994, a malha hidroviária participava com
apenas 1% do transporte de cargas.
As hidrovias, na década de 1990, ainda eram os rios das principais bacias brasileiras, em que a ação humana corretiva foi limitada. Dentre essas vias destacavam-se a bacia amazônica, da qual dependiam de forma quase absoluta as populações esparsas da região Norte; a bacia do Paraguai, via de escoamento de parte da produção mineral e agropecuária da região Centro-Oeste; e a bacia do São Francisco, que atendia as populações ribeirinhas dos estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. No Rio Grande do Sul localiza-se a a principal via de transporte fluvial e lacustre do país, formada pelos rios Taquari e Jacuí, ligados às lagoas Patos e Mirim pelo canal de São Gonçalo.
O único projeto de hidrovia em andamento na metade da década de 1990 era a Tietê-Paraná, no estado de São Paulo. Em trabalho conjunto, os governos estadual e federal realizaram obras de correção dos leitos dos rios para torná-los navegáveis e construíram canais artificiais de ligação e barragens com eclusas. A conexão com redes ferroviária e rodoviária permitia o escoamento pela hidrovia da produção de numerosos municípios paulistas.
Transporte aéreo
Implantado no Brasil em 1927, o transporte aéreo é
realizado por companhias particulares sob o controle do Ministério da
Aeronáutica no que diz respeito ao equipamento utilizado, abertura de
novas linhas etc. A rede brasileira, que cresceu muito até a década de
1980, sofreu as consequências da crise mundial que afetou o setor nos
primeiros anos da década de 1990.
Transporte marítimo
Entre 1920 e 1945, com o florescimento da indústria
de construção naval, houve um crescimento constante do transporte
marítimo, mas a partir dessa época a navegação de cabotagem declinou de
forma substancial e foi substituída pelo transporte rodoviário. Para
reativar o setor, o Congresso aprovou em 1995 uma emenda constitucional
que retirou dos navios de bandeira brasileira a reserva de mercado na
exploração comercial da navegação de cabotagem e permitiu a participação
de navios de bandeira estrangeira no transporte costeiro de cargas e
passageiros.
http://www-geografia.blogspot.com/
http://www-geografia.blogspot.com/